Acidentes domésticos são a principal causa de morte nas crianças com mais de um ano
Os acidentes domésticos são a principal causa de morte nas crianças com mais de um ano e a ingestão de corpos estranhos em idade pediátrica é uma preocupação para os especialistas. As moedas são o objeto mais frequentemente ingerido, mas as pilhas que se assemelham às moedas também constituem um perigo.
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O alerta foi deixado, esta quarta-feira, por Ricardo Ferreira, diretor do serviço de Pediatria Médica do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, durante o webinar "Acidentes Domésticos e de Lazer, um problema nos idosos e nas crianças", promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
Tal como o JN noticiou, os acidentes domésticos e em contexto de lazer, que implicam o recurso aos serviços de urgência, estão a aumentar e atingiram, em 2022, o valor mais alto dos últimos cinco anos. Só no ano passado, registaram-se 218 657 acidentes dentro e fora de portas. Trata-se de um aumento de cerca de 4% face a 2021, numa média diária de 599 casos. As quedas são o mecanismo de lesão mais frequente e os acidentes afetam, sobretudo, os grupos mais vulneráveis: crianças e idosos.
Em Portugal, a monitorização destes casos é feita através do sistema EVITA - epidemiologia e vigilância dos traumatismos e acidentes, sediado no departamento de epidemiologia do INSA e alimentado pelos acidentes domésticos e de lazer registados nas urgências de 28 hospitais, unidades locais de saúde e centros hospitalares do Serviço Nacional de Saúde.
A ingestão de corpos estranhos em idade pediátrica, segundo o médico Ricardo Ferreira, é mais frequente entre o primeiro e o quarto ano de vida da criança, estando relacionado com a "curiosidade típica da idade". Geralmente, detalhou, são objetos presentes no meio ambiente ou na comida. Por norma, as moedas são o objeto mais frequentemente ingerido. Mas, ressalvou Ricardo Ferreira, há outros. É o caso dos brinquedos ou peças de brinquedos e das "pilhas tipo moedas".
De acordo com Ricardo Ferreira, "80 a 90% dos corpos estranhos ingeridos não precisam de qualquer intervenção médica" e "10 a 20% podem necessitar de remoção endoscópica". Menos de 1% obrigam a cirurgia. Ainda assim, frisou o médico, "há a possibilidade de haver complicações graves ou até morte", nomeadamente quando há a ingestão de pilhas e corpos estranhos pontiagudos.
"Num país desenvolvido como o nosso e com bons cuidados de saúde, a principal causa de morte em pediatria depois do primeiro ano de vida são os acidentes", alertou Ricardo Ferreira, sublinhando que estes acidentes são "um problema que preocupa os pediatras".
No caso específico das “pilhas tipo moeda”, Ricardo Ferreira alertou para os seus perigos. “Este é o nosso principal inimigo atualmente. Antigamente, eram pequeninas e não ficavam encravadas no esófago. As crianças deglutiam e ia para o estômago. As maiores ficam habitualmente encravadas no esófago superior", explicou o médico, afirmando que há o risco de queimaduras.
Ricardo Ferreira defendeu uma mudança da legislação a nível europeu e nacional, de forma a obrigar que as pilhas existentes nos vários dispositivos domésticos estejam em compartimentos inacessíveis, à semelhança do que já acontece nos brinquedos.