Até ao momento, as ações de sensibilização e formação contra a violência sexual na Igreja já abrangeram 2700 pessoas, desde catequistas a professores de educação moral e religiosa católica. O Grupo Vita revelou, esta terça-feira, que metade das dioceses espalhadas pelo país solicitaram este tipo de resposta
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As ações de capacitação contra a violência sexual já chegaram a 2700 pessoas de norte a sul do país, um número que aumentou 59% nos últimos seis meses, revelou a coordenadora do Grupo Vita, a psicóloga Rute Agulhas, durante a apresentação do terceiro relatório de atividade da organização que identificou até agora 118 vítimas de abusos sexuais no contexto da igreja católica.
Recorde-se que o Grupo Vita iniciou o programa de ações de sensibilização e formação em junho de 2023 para capacitar membros das comissões diocesanas de proteção de menores, de institutos religiosos e instituições da sociedade civil.
Segundo Rita Agulhas, 50% das dioceses espalhadas pelo país "já pediram formação e vários institutos religiosos começam também a fazer". Para a psicóloga, os números são sinal de uma maior abertura de todas as instituições religiosas para este problema “num caminho de confiança” que têm vindo a construir ao longo dos 20 meses de atividade do grupo.
A partir desta terça-feira, o Grupo Vita disponibilizou também no seu 'site' novas brochuras para uso nas igrejas ou nas escolas, uma direcionado a adultos sobre como proteger as crianças e prevenir o abuso sexual e outra a jovens sobre segurança 'online'. Há também um marcador de livros para crianças sobre as cinco regras de segurança de forma a incluí-las , "não confundindo esta prevenção com o falar de sexo, mas, sim, falar de segurança", salientou a psicóloga.
"A criação destes recursos vem também ao encontro daquilo que tem sido manifestado por todas estas pessoas com quem temos vindo a contactar em ações de sensibilização e de capacitação que muitas vezes nos dizem, até queria abordar o tema, mas não sei como. Se houver um recurso prático, é mais fácil", explicou Rute Agulhas.
Mais ações nas escolas públicas
A responsável adiantou ainda que fora da igreja católica também têm surgido pedidos de formação, como é o caso da Direção-Geral da Educação para "um conjunto já bastante significativo de professores de escolas públicas". Além disso, o Grupo Vita terá sido recentemente recebido pelo ministro da Educação "para que possa ser pensada a prevenção e a capacitação, não só de docentes, mas também de auxiliares".
Na conferência foram também apresentados os resultados de quatro das cinco investigações científicas que o Grupo Vita se comprometeu a desenvolver para compreender a problemática da violência sexual na igreja católica portuguesa. Em dois dos estudos, os especialistas contaram com a participação de 1 500 catequistas em todo o país e 783 professores. Os resultados mostram que quando mais envolvidas estão no tema, mais estas pessoas querem ajudar na formação das crianças e jovens católicas na prevenção de comportamentos abusivos.
Com base nos vários estudos, o Grupo Vita concluiu também que a mudança de comportamento implica uma aposta na capacitação da comunidade e a criação de oportunidades para introduzir o tema da violência sexual. É, por isso, que estão a ser desenvolvidos dois programas de prevenção primária que Rute Agulhas disse querer apresentar até maio.