Diana e Maria integram grupo de 125 alunos dos Açores, em isolamento no Continente há mais de um mês, que pedem ajuda para regresso seguro a casa.
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Diana e Maria estão sozinhas numa casa que não é a delas, em isolamento social, à espera da oportunidade de regressar a casa. Uma em Coimbra, outra em Lisboa. Nos longos dias de pandemia, a insularidade pesa sobremaneira. As estudantes dos Açores, deslocadas no Continente, viram os colegas de curso retornarem aos domicílios e prosseguirem estudos no regaço familiar. Esse aconchego está a ser-lhes negado, a elas e a mais 123 alunos dos Açores, deslocados no Continente, que anseiam por um retorno às ilhas.
Desde janeiro que as duas estudantes, de Matemática na Universidade de Coimbra e de Ciências da Nutrição na Universidade do Porto, não abraçam a família. A saudade aperta no peito. "A quarentena tem efeitos psicológicos e emocionais. Ter o aconchego da família não é só estar em casa, é a nossa saúde psicológica. Vim no dia 4 de janeiro e nunca mais lá fui. E estive sozinha na Páscoa", lamenta Diana Batista, que já sabe que não voltará a sentar-se numa sala de aula no campus de Coimbra. O que faz hoje no quarto alugado poderia cumprir na ilha do Pico, com muito menos custos emocionais e financeiros.
Custos do isolamento
O isolamento sobrecarrega a carteira de Maria Beatriz Miguez, que rumou do Porto a Lisboa para realizar o estágio, interrompido pelo surto. Em teletrabalho desde 11 de março e longe do Faial há três meses, as despesas avolumam-se.
Tal como Diana e os 123 conterrâneos espalhados pelo país que subscrevem o apelo, enviado esta semana ao presidente da República, solicitando um resgate seguro para os Açores, Maria tomou a decisão "difícil" de permanecer no Continente, sem suspeitar que não teria data para se extinguir.
O sacrifício foi pedido pelo Governo Regional dos Açores, quando as universidades encerraram, recorda Diana. Volvido mais de um mês, considera justo que, agora, os ajudem a retornar às ilhas. "Tudo o que mais quero é estar com a minha família", suspira. "Queremos fazê-lo da forma mais segura e com os maiores cuidados sanitários, pois não queremos constituir um perigo para a saúde dos nossos conterrâneos e daqueles que mais gostamos", complementa Maria.
O Governo Regional descarta, "nesta fase", o resgate dos alunos à semelhança do que foi feito para os presos. Ao JN, o Ministério da Ciência do Governo nacional sublinha que a prioridade é garantir a "estabilidade do sistema de Ensino Superior", com o pagamento de 68 mil bolsas em março e o funcionamento de residências e de cantinas.
Força Aérea levou presos, mas não é usada para alunos
O grupo de 125 estudantes propõe que a Força Aérea faça o transporte até às respetivas ilhas. O Governo regional adotou essa solução para o regresso dos presos, libertados esta semana de Alcoentre, mas descarta promover, "nesta fase", um transporte semelhante dos alunos deslocados.
Acresce que o recurso a voos comerciais também não é hipótese, pois a TAP só garante ligações à Terceira e a S. Miguel e boa parte dos estudantes reside noutras ilhas. O transporte aéreo entre ilhas foi suspenso. Até maio, o Governo Regional promete dar apoio financeiro e social aos alunos.