Adalberto Campos Fernandes, antigo ministro da Saúde, alertou, este sábado, durante o XI Fórum Saúde para o Século XXI - A Transformação Digital em Saúde, para a sustentabilidade do sistema de saúde. "Os sistemas de saúde, tal como as empresas e as famílias, vão à falência", avisou o médico e professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, para vincar a importância da "responsabilidade orçamental", já que "os recursos não são infinitos".
Corpo do artigo
"Os limites para os recursos não são infinitos, pelo que tem que haver critério e maturação criteriosa de prioridades. É preciso definir o caminho e prioridades porque não vamos conseguir fazer tudo para todos e quem disser o contrário está a iludir", explicou Adalberto Campos Fernandes, considerando que é "urgente discutir a questão do financiamento e da sustentabilidade no médio e no longo prazo".
Um futuro sustentável, sublinhou, "requer planeamento adequado de infraestruturas, equipamentos e recursos humanos", devendo ter em conta fatores como a "transição demográfica, o peso da doença crónica, o acesso à inovação terapêutica e tecnológica, as intervenções em saúde pública, bem como à indispensável participação dos cidadãos".
O antigo ministro convidou à participação na discussão pública do Plano Nacional de Saúde, que decorre até 7 de maio. Atualmente está em curso uma reforma que, na sua opinião, é das iniciativas "mais estruturais e com mais impacto na qualidade de vida [da população] e, também, no funcionamento dos hospitais".
Envelhecimento é a "maior ameaça"
Para Adalberto Campos Fernandes, a estagnação demografia é a "maior ameaça que temos à sustentabilidade do Estado. Daqui por 30 anos, se não tivermos a capacidade e engenho de inverter o processo demográfico em curso, Portugal é uma nação inviável do ponto de vista da sua sustentabilidade", considerou.
Este, assegurou, "é um assunto que incomoda muito, não apenas em Portugal mas na Europa toda, as forças política do Governo e da Oposição, que têm um grande embaraço em discutir o inverno demográfico".
Apoiando-se nos dados recentes dos Censos e em projeções futuras (entre 2012 e 2060, perspetiva-se que passaremos de 131 idosos por cada 100 jovens para 307 idosos), o antigo ministro constatou que "não é possível sustentar um país em matéria de políticas públicas" com estes números. "Ou Portugal descobre uma mina de diamantes. Ou o lítio transforma-se no nosso petróleo. Ou então a Europa avança para uma federação e Portugal é uma região da Europa e não tem condições para ter um orçamento próprio porque, efetivamente, terá uma dificuldade económica insuperável".