A adesão à greve dos trabalhadores do setor público da saúde no turno da manhã rondava, até às 9.30 horas desta quarta-feira, os 80%, segundo fonte sindical, adiantando que há perturbações nas consultas e serviços de apoio.
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"Temos regiões como o Funchal (Madeira), Viana do Castelo, Portimão, Faro, e no São José, em Lisboa, em que a adesão à greve ronda os 80%. Na Figueira da Foz, o hospital teve até de recrutar estagiários para substituir trabalhadores em greve", disse o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), destacando que a "paralisação está a superar as expectativas".
De acordo com o dirigente sindical, no turno da noite (que começou à meia-noite) a adesão à greve rondou os 70% e no da manhã (que teve início às 8 horas) os 80%.
A paralisação nacional começou à meia-noite desta quarta e prolonga-se até às 24 horas de quinta-feira.
Greve fecha quatro das 11 salas de cirurgia do Hospital S. João
Admitindo que os números apurados durante a manhã no hospital do Porto ficaram "um pouco aquém" do previsto pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), o dirigente, Carlos Lopes, disse à agência Lusa que, ainda assim, a adesão é grande.
"O balanço relativamente ao Hospital São João é que, neste momento, temos apenas a funcionar quatro das 11 salas de cirurgia, pois apenas apareceram quatro das auxiliares, houve uma grande adesão", disse. Segundo o responsável do Sintap, "ao nível das consultas externas, verifica-se também um grande atraso".
"As pessoas aderiram, não tanto como queríamos. Sem números concretos, a adesão andará à volta dos 50%, um número que fica um pouco aquém da expectativa", declarou.
Para o sindicalista, os números da adesão devem-se ao facto de "a grande maioria das pessoas ter medo de perder o seu posto de trabalho", situação que Carlos Lopes considerou "compreensível".
Vários serviços afetados em Coimbra devido à greve dos trabalhadores de saúde
A adesão à greve na região Centro tem sido significativa e, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), registaram-se, durante a noite, níveis de adesão de cerca de 70% nos internamentos e de 100% nas urgências e cuidados intensivos, números que se refletem no turno da manhã, disse à agência Lusa Ricardo Domingos, membro dos órgãos regionais do Sintap.
"Há serviços encerrados como o secretariado clínico. Nas enfermarias, há uma média de 70% de adesão e há blocos de cirurgia programada fechados e consultas em que o secretariado está fechado", sublinhou.
"De uma vez por todas, temos que marcar a nossa posição e fazer chegar ao Governo que estas injustiças, nomeadamente no setor da saúde, não podem continuar, com uns trabalhadores de primeira e outros trabalhadores de segunda", criticou.
Para além disso, Ricardo Domingos chamou a atenção para a sobrecarga de trabalho, referindo que no CHUC os assistentes operacionais do serviço de urgência tinham, em média, "11 mil horas que vão ficando em bolsa", sem uma solução definida.
O coordenador regional do Sintap, Jacinto Santos, afirmou à agência Lusa que os níveis de adesão à greve na região Centro, nomeadamente nos hospitais da Figueira da Foz, Coimbra, Aveiro, Estarreja e Santa Maria da Feira estão entre "os 80 a 90%".
Adesão à greve foi de 100% nas consultas externas no Hospital do Funchal - Sindicato
A adesão à greve dos trabalhadores da saúde na Região Autónoma da Madeira foi de 100% nas consultas externas e na cirurgia em ambulatório do Hospital Central do Funchal, no turno da manhã, informou, esta quarta, o sindicato do setor.
"O bloco operatório e os andares têm serviços mínimos assegurados, mas nas consultas externas e na cirurgia em ambulatório a adesão foi total", disse à agência Lusa Carlos Moniz, delegado Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), responsável pela convocatória da paralisação nacional de dois dias.
O Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM) não confirma para já estes números e remeteu a divulgação de dados para mais tarde.
A greve não está, contudo, a afetar o funcionamento de várias unidades de saúde e tão pouco está a gerar protestos por parte dos utentes, como por exemplo no Centro de Saúde de Santo António, um dos maiores do Funchal e da Madeira, onde constatamos que nenhum trabalhador aderiu à paralisação na parte da manha.
No Hospital dos Marmeleiros e no Hospital João de Almada, também na área do Funchal, o sindicato informou que a adesão foi de 25% e 45% respetivamente.
"Há trabalhadores não podem fazer greve nos dois dias e, por isso, só poderemos divulgar dados mais concretos no final", explicou.
Greve dos trabalhadores da saúde no Algarve com adesão entre 60 e 70%
João Barnabé, coordenador regional do Algarve do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), fez um balanço da adesão verificada esta quarta na região e afirmou que se situava, cerca das 10.30 horas, em "mais ou menos 60 a 70%", havendo "alguns serviços fechados, quer em centros de saúde, quer em serviços do hospital de Faro".
"Os centros de saúde de Lagos e Albufeira estão encerrados e Olhão está a funcionar a meio gás", disse ainda João Barnabé, frisando que esta greve se "sente mais nas consultas externas".
O coordenador regional do Sintap lembrou que "há serviços mínimos" a serem garantidos, mas "mesmo assim deve-se verificar atrasos nas marcações de consultas", porque "os serviços mínimos apenas abrangem tudo o que é urgência e oncologia previamente marcada".
"Há pessoas que vão ficar sem consultas, porque está lá o médico, o enfermeiro, mas depois não está o operacional ou o administrativo para dar apoio ao médico", afirmou a mesma fonte, acrescentando que "o serviço até pode estar aberto e o médico estar presente, mas não haver consultas".
Ana Paiva, dirigente sindical do Sintap no hospital do Barlavento, disse que "em Portimão a greve está a rondar os 70%, com vários serviços fechados", valor "ligeiramente superior ao verificado em Faro".
A mesma fonte referiu que "as consultas externas deviam ter aberto às 8 horas, com seis funcionários, todos com contrato individual, que faltaram", e "abriu só às 9.30 horas, com uma funcionária, que tem centenas de pessoas à espera" e muitas delas poderão não ser atendidas.
A greve está-se a fazer sentir também na "medicina interna de pediatria", que está a trabalhar "sem funcionários e assistente operacional", precisou, acrescentando também que "há coordenadores de serviço a assegurar serviços mínimos" devido à adesão dos trabalhadores à paralisação nacional.
Utentes surpreendidos e indignados com fecho de maior centro de saúde de Viana
Os utentes do maior centro de saúde de Viana do Castelo manifestaram-se esta quarta-feira surpreendidos e indignados com o encerramento daquela unidade devido à greve dos trabalhadores do setor público da saúde.
"Chego aqui e tenho as portas fechadas, é inadmissível", afirmou Helena Lopes, enquanto, indignada, empurrava o carrinho onde transportava a filha de um ano. Helena Lopes foi fazer o controlo do vírus que "atacou" a filha e deu com a porta da Unidade Saúde Familiar (USF) Gil Eanes, na frente ribeirinha de Viana do Castelo, fechada. No vidro estava afixado o aviso: "Greve dos trabalhadores da Saúde (2 e 3 de maio)".
A cerca 1,5 quilómetros de distância, à porta da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), onde mais de meia centena de trabalhadores do setor público da saúde participavam numa concentração, os utentes abordados pela Lusa disseram não ter notado os efeitos da paralisação.
Greve provoca cancelamento de consultas e lentidão nos hospitais do Alentejo
"Há algumas consultas que têm sido canceladas e há serviços dos hospitais que estão a funcionar, mas com lentidão. Deveriam ter quatro e cinco funcionários, mas só estão com dois", afirmou à agência Lusa Joaquim Grácio, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap).
Segundo o sindicalista, coordenador da secção regional do Alentejo do Sintap, a adesão à greve, neste que é o primeiro de dois dias de paralisação, "ronda os 70%" nos hospitais alentejanos. "A adesão ronda os 70%" nos hospitais de Beja, Évora e Portalegre", sendo ligeiramente superior, na ordem "dos 75%", no Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém (Setúbal), precisou.
A paralisação, destacou Joaquim Grácio, "está a ter um efeito importante" e "os trabalhadores necessitam de mostrar claramente ao Governo" as razões que os levam ao protesto. "Os trabalhadores estão a lutar pela dignificação das carreiras e pelas 35 horas de trabalho para todos. E alguns deles, há 10 anos ou mais, têm sempre o mesmo salário, que é baixíssimo, pelo que reivindicamos a progressão nas carreiras e a assinatura do acordo coletivo de trabalho que está em cima da mesa há cerca de seis anos", resumiu.
"Os serviços estão a ser afetados na ordem dos 90%. Os restantes setores do hospital e centros de saúde estão a funcionar com normalidade", disse à Lusa o porta-voz da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), Ilídio Pinto Cardoso.
Já no Centro de Saúde de Portalegre, a Lusa constatou que os serviços funcionavam com normalidade, não se fazendo sentir os efeitos da greve, que continua na quinta-feira.
O porquê da paralisação
A greve de dois dias, que arrancou esta quarta, foi convocada pelo Sintap e abrange todos os trabalhadores da saúde, exceto médicos e enfermeiros, dos serviços tutelados pelo Ministério da Saúde, como hospitais ou centros de saúde.
O protesto exige a aplicação do regime de 35 horas de trabalho semanais para todos os trabalhadores, progressões na carreira e o pagamento de horas extraordinárias vencidas e não liquidadas.
Segundo o secretário-geral do Sintap, o sindicato foi convocado para uma reunião na próxima sexta-feira para continuar as negociações do contrato coletivo de trabalho, que já está a ser negociado "há seis anos, sem qualquer tipo de resultados".
O Governo, defendeu, tem de dar "resposta aos problemas, acabar com a precariedade e acabar também com a sobrecarga" de muitos dos profissionais, face à falta de pessoal na maioria dos serviços.
No dia 25 deste mês, trabalhadores do setor da saúde voltam a cumprir um dia de greve, uma paralisação marcada pelos sindicatos afetos à CGTP.
Já na próxima semana, são os sindicatos médicos que têm uma greve de três dias agendada, para os dias 8, 9 e 10.