Todos os membros do conselho de administração do hospital Amadora-Sintra renunciaram ao mandato, um dia depois do presidente daquela unidade, Luís Miguel Gouveia, ter garantido que os gestores se mantinham em funções à saída da reunião com a ministra da Saúde.
Corpo do artigo
Em comunicado enviado às redações, o conselho de administração dá conta de que apresentou, esta quinta-feira, a "renúncia aos cargos" à ministra Ana Paula Martins e ao diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"O conselho de administração sempre seguiu o caminho da legalidade, ética e justiça, nunca considerando qualquer outro e reitera que a sua prioridade sempre foi garantir o interesse dos utentes, a confiança na instituição e a qualidade dos serviços prestados. Esta decisão permitirá à Tutela implementar as medidas e políticas que considere necessárias, não sendo este conselho de administração um obstáculo", sublinha ainda na mesma nota.
Os administradores enaltecem a colaboração com as câmaras de Sintra e da Amadora e a dedicação dos profissionais de saúde ao serviço do hospital. "Uma palavra especial de reconhecimento e agradecimento aos profissionais da Unidade Local de Saúde Amadora/Sintra, pelo extraordinário trabalho desenvolvido diariamente no cumprimento da missão desta unidade".
Número limitado de cirurgiões e picos nas urgências
Um dia antes do anúncio da renúncia, Luís Miguel Gouveia, que lidera do hospital de Amadora-Sintra desde julho de 2023, reuniu-se com a ministra Ana Paula Martins, que já tinha afirmado que, desse encontro, sairiam "soluções e consequências". No entanto, no final do encontro, o gestor pouco adiantou sobre as soluções e não houve consequências. A demissão chega um dia depois.
À saída da reunião, o administrador reconheceu que o hospital tem um "número limitado de cirurgiões" e, por essa razão, não conseguiram completar a escala da urgência de cirurgia geral por cinco vezes em janeiro passado, assinalando que os longos tempos de espera na urgência resultam de "picos de afluência" e ao "número elevado de utentes no serviço de observação".
Outra preocupação da administração demissionária do Amadora-Sintra era a eventual perda de idoneidade formativa. No passado dia 15 de janeiro, a Ordem dos Médicos retirou a idoneidade formativa à cirurgia geral daquele hospital por "manifestas deficiência na capacidade de formar internos". A decisão foi tomada com base no parecer do Colégio de Cirurgia Geral da Ordem. O hospital já contestou o relatório do colégio da especialidade e anunciou que iria solicitar uma reunião urgente ao bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes. No entanto, o bastonário tem sido muito crítico do funcionamento desadequado da urgência de cirurgia geral do hospital, tendo pedido a intervenção da ministra da Saúde. Carlos Cortes entende que aquele serviço está a trabalhar "muito abaixo dos limites" de segurança clínica.