No ano passado foram recolhidos cerca de 40 mil das ruas, mas as adoções ficaram-se apenas pelas 28 mil. No total do país, estima-se que haja 800 mil gatos e 100 mil cães errantes.
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No último ano, o número de animais adotados dos Centros de Recolha Oficial (CRO) caiu 8% face a 2023. No total, houve 27.957 adoções. O relatório anual dos CRO, elaborado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) revela que também o número de cães e gatos resgatados das ruas desceu 10%. Ainda assim, as recolhas continuam muito superiores às adoções: cerca de 40 mil animais errantes foram recuperados.
Em Portugal, há quase um milhão de animais a viver nas ruas, sendo que cerca de 800 mil são gatos e, aproximadamente, 100 mil são cães. Os CRO espalhados pelos vários municípios, assim como as inúmeras associações, têm tentado recolher o máximo de animais possível para lhes prestar cuidados de saúde e dar abrigo temporário até encontrarem uma família que opte pela adoção responsável.
Em 2023, o número de animais adotados subiu para os 30.424, sendo o número mais alto dos últimos anos. No entanto, em 2024 registou-se uma queda de 8,1%, tendo havido menos 2467 adoções. Para o presidente da Associação Nacional de Médicos Veterinários Municipais (ANMVM), esta descida não é significativa e acrescenta que “há informação que não foi vertida” no relatório anual, o que pode “perfeitamente explicar tal diferença”. No entanto, alerta para um problema maior: “Não estamos a conseguir dar resposta e estamos a deixar animais na rua. Temos muitos canis que não conseguem recolher porque estão lotados”.
O relatório anual do ICNF mostra que, tal como as adoções, também o número de recolhas caiu. No último ano, foram recolhidos 40.655 animais das ruas, menos 10% do que em 2023. “No ano passado podem ter sido construídos novos canis e com isso houve um aumento da capacidade de alojamento. Mas os novos canis ao ficarem cheios, não têm a mesma capacidade que tinham no ano de abertura. Os cães vão ficando alojados e só começa a haver entre 10% a 15% de vagas, que vão circulando”, explica Ricardo Lobo.
Canis cheios
O médico veterinário afasta a ideia de existirem mais animais errantes, mas garante que o número de assilvestrados tem vindo a aumentar. “Aquilo que tem aumentado, que eu não tenho dúvidas, é o número de animais assilvestrados porque os canis estão cheios e são mesmo muito difíceis de capturar. Esses ninguém os contabiliza, mas sabemos que há muitos concelhos com estes problemas”, alerta.
O problema dos animais errantes, na opinião de Ricardo Lobo, tem que ser “atacado” ao nível da detenção responsável, regulando quem pode e quem não pode ter animais, para haver uma solução a médio prazo. Além disso, defende que as coimas aplicadas aos tutores cujos animais não têm chip deveriam ser superiores e instruídas pela GNR.
Contudo, há dados positivos. Segundo o presidente da ANMVM, o número de identificações registados no SIAC (Sistema de Informação de Animais de Companhia) têm diminuído, o que poderá significar que há menos pessoas a comprar e a adotar cães, por haver menos animais disponíveis. “A diminuição de novos animais registados no SIAC é uma coisa positiva. Podemos estar a falar de uma menor disponibilidade de cães, pelo esforço que fazem as associações e os CRO e pelo esforço na esterilização. Portanto, temos menos cães a nascer, menos disponibilidade, menos pessoas a querer cães.”
Centro de adoção em Berlim recebe 12 mil animais por ano
Os países da Europa com maior taxa de adoção de animais de companhia variam, mas frequentemente destacam-se Alemanha, Reino Unido, Países Baixos, Suíça e Dinamarca. O maior centro de adoção na Europa é o Tierheim Berlin, localizado em Berlim, capital alemã. Além de cães (a maioria), também acolhe gatos, hamsters e aves. Muitos têm idade avançada, problemas de saúde ou foram vítimas de maus-tratos. Nos sites de alguns abrigos, há descrições de cada novo animal que chega. O centro de Berlim recebe cerca de 12 mil animais abandonados por ano. Na Alemanha, é incomum encontrar cães e gatos vadios nas ruas, pois todos os animais devem ser registados e os seus donos pagam um imposto anual.
À lupa
Adoções
Santo Tirso foi o município que registou o maior número de adoções em 2024, com 854. Seguiram-se Famalicão (777) e Braga (621).
Recolhas
Quanto ao número de animais recolhidos, o Porto lidera a tabela (1546), seguido de Famalicão (1059) e Santo Tirso (1012).