Estudo da OCDE alerta para horas passadas nas redes sociais e impactos na saúde das crianças. Defendida ação coordenada que ouça os adolescentes, envolvendo pais, educadores e decisores políticos.
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Se os dispositivos digitais podem abrir uma janela de oportunidades em termos de aprendizagem aos nossos adolescentes, também podem fechá-los na sua relação com o mundo. Com impactos na sua saúde mental. Alertando a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e tendo por base um inquérito levado a cabo nos países que a integram, que “aproximadamente 17% dos adolescentes com 15 anos de idade reportam sentimentos de ansiedade ou nervosismo em pelo menos metade do tempo quando estão sem os seus dispositivos digitais”. Tempo esse que, quando usado em lazer, ultrapassa o recomendado. Sendo urgente agir junto de pais e educadores, não podendo os governos descurar o papel que têm em mãos.
O aviso é deixado no relatório “Como é a vida das crianças na era digital?”. A resposta é complexa, até pela ausência de dados mais finos. Que importa, desde logo, “fortalecer” com vista a monitorizar o “envolvimento digital das crianças e avaliar o seu impacto no bem-estar e desenvolvimento”. Só assim, nota o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, “podemos garantir um apoio eficaz e adaptado ao cenário digital”, em constante evolução.
Apoio esse que carece de toda a sociedade. E de uma maior literacia. Numa abordagem “coordenada e multissetorial que envolva todo o Governo e toda a sociedade”, pode ler-se no documento. Obrigando a um conhecimento partilhado dos benefícios e dos riscos: de quem desenvolve aqueles dispositivos, dos profissionais de saúde, dos educadores e dos pais, “alinhados com as visões e expectativas das crianças”.
Tempo a mais nas redes
Auscultados no trabalho agora divulgado, quase dois em cada dez adolescentes reportaram sensações de ansiedade por não terem acesso aos seus dispositivos, com maior peso nas raparigas (22%) do que nos rapazes (13%). Com mais de um terço a referirem estar constantemente online em contacto com amigos ou familiares e 10% a assumirem uma experiência problemática com as redes sociais.
Quanto a tempos de utilização – vários países recomendam não mais do que duas horas diárias em frente ao ecrã –, se analisado apenas o uso por motivos recreativos constata-se que dois terços das raparigas e 61% dos rapazes com 15 anos despendem três ou mais horas diárias nas redes sociais. O que se cruza com dados apurados para 2022 e que dão conta que quase metade dos adolescentes utiliza as redes sociais para “escapar de sentimentos negativos”. Com a mediação parental numa encruzilhada: “Enquanto as regras dirigidas aos conteúdos são mais eficazes na redução da utilização problemática da internet, tempos rígidos de utilização podem provocar rebelião ou sintomas de abstinência”.
Num desafio sem precedentes para a sociedade, identificando os autores do relatório quatro pilares para uma abordagem política holística. Desde logo, estabelecendo “quadro regulatórios eficazes” e promovendo “o desenvolvimento de tecnologias que priorizem a segurança infantil”.
Sem esquecer o reforço da literacia digital, com escolas e professores a desempenharem um papel crucial. Que se deve estender a pais e cuidadores, que têm que ser orientados para os benefícios e riscos do envolvimento digital das crianças. Por fim, ouvir as crianças aquando da formulação de políticas para que “as suas necessidades sejam compreendidas com precisão”.