Polo universitário em Cascais, centro de excelência pensado no Alto Minho e fabrico de aeronave em Ponte de Sor são bons exemplos.
Corpo do artigo
O anúncio de um polo de engenharia aeronáutica e aeroespacial que a Universidade Nova vai instalar junto ao aeródromo de Tires, em Cascais, é o mais recente exemplo de como os aeródromos portugueses estão a ganhar nova vida. Por todo o país as estruturas estão a atrair investimento de alto valor e a projetar os territórios.
O campus universitário que se desenha no aeródromo de Tires, em Cascais, incluirá uma área académica onde serão ministrados cursos na área da aeronáutica, uma área tecnológica e industrial e um parque urbano. Será um fator de desenvolvimento do espaço, mas não o único, já que a câmara também tem vindo a estabelecer protocolos de parceria para trabalhos com “drones e materiais compósitos”, um memorando de entendimento com uma empresa de helicópteros e até disponibilizou um hangar para manutenção da TAP, revelou o presidente da autarquia, Carlos Carreiras.
A Câmara, que ali construiu uma torre de controlo, um quartel de bombeiros e planeia uma aerogare, para melhorar as condições no espaço, acredita que será necessária mão de obra para responder a um setor em crescimento, pelo que também estabeleceu protocolos para criar um curso profissional de mecatrónica automóvel, com a Associação de Formação para a Indústria e o Agrupamento de Escolas Matilde Rosa Araújo, e para um curso profissional de manutenção de aeronaves e material de voo, com a TAP Maintenance and Engineering e o Agrupamento Frei Gonçalo de Azevedo. O desenvolvimento atrairá pessoas, pelo que se prevê a “construção de habitação e equipamentos, como centros de saúde e escolas”, acrescentou Carlos Carreias.
A norte, o aeródromo de Cerval, no limite dos municípios de Vila Nova de Cerveira e Valença, ambiciona ser o epicentro de um centro de excelência para o setor aeronáutico e aeroespacial no Alto Minho. O centro terá, também, valências no setor oceânico e geoespacial.
A Aeroplanum – Associação Aeródromo Alto Minho-Galiza, constituída pelos municípios de Valença e Vila Nova de Cerveira, instituto politécnico e Confederação Empresarial do Alto Minho, criou uma comissão de trabalho para desenvolver o projeto, que é liderada por Hugo Cal Barbosa, professor de Engenharia Aerospacial na Universidade do Minho e vogal do Colégio de Engenharia Mecânica da Ordem dos Engenheiros.
Ideias para negócios
Um dos primeiros passos passará pelo desenho de uma infraestrutura mais completa, o que inclui aumentar e alargar a pista, certificar o aeródromo para classe II e construir uma aerogare, que albergará espaços para comunicação, funções administrativas, zona de passageiros e salas para forças policiais, entre outras.
Em volta disto, será criada uma zona de edifícios destinados a institutos, centros tecnológicos e universidades, que poderão desenvolver programas em parceria com academias, laboratórios para testes e outros projetos relevantes. “É natural que saiam ideias passíveis de se tornarem em negócios”, sublinha Hugo Cal Barbosa, explicando que se estuda a possibilidade de ali se vir a instalar um centro de incubação e apoio ao desenvolvimento de empresas.
Ao redor do aeródromo há espaço para um parque industrial para empresas do setor e “algumas empresas já manifestaram interesse em vir para Portugal”, avança Hugo Cal Barbosa, realçando as mais-valias do local: a menos a 45 minutos por autoestradas de grandes universidades em Portugal e Espanha, perto de portos marítimos e de outros grandes centros urbanos, o que permitirá estabelecer laços com empresas complementares ou abrir oportunidades a que indústrias de outros setores possam aproveitar o saber instalado para diversificar a atividade.
Em paralelo, a comissão está a trabalhar para garantir recursos humanos. A ideia é que as escolas tenham cursos técnicos, garantindo a mão de obra necessária para as fábricas. Por outro lado, estes projetos poderão ajudar a reter talento e especialistas portugueses altamente qualificados que, por falta de oportunidades, costumam emigrar.
Sinal de que as coisas estão a mexer, é o facto de, no mês passado, ter ocorrido, em Valença, uma reunião que contou com a presença, entre outros, de representantes do Centro Espacial Chinês, MicroSat e do consórcio da Aeroplanum. “Esta parceria atrai até Valença tecnologia, conhecimento e investimento que abrirá novos horizontes para colocarmos o Aeródromo de Cerval como elemento âncora estratégico ao serviço de Valença e de toda esta região transfronteiriça, potenciando as novas tecnologias, a criação de empresas tecnológicas e gerando emprego altamente qualificado”, explicou o presidente da câmara, José Manuel Carpinteira.
Por todo o país há exemplos de como os aeródromos estão a ganhar relevo. No de Ponte de Sor estão instaladas 15 empresas no centro de negócios para a indústria aeronáutica e aeroespacial, que criam 600 postos de trabalho. Têm atividades que vão desde meios aéreos da proteção civil até academias de pilotos, manutenção de aeronaves, fabrico de máscaras de oxigénio e, desde há dias, também uma fábrica de capacetes para jatos, contou o presidente da câmara, Hugo Hilário.
Aeronave portuguesa
No “final deste ano ou início do próximo” deverá começar a instalar-se no aeródromo a fábrica da primeira aeronave portuguesa LUS222, no âmbito da agenda mobilizadora Aero.Next Portugal, que criará mais 150 a 200 postos de trabalho diretos. O avião, referiu o autarca, “está a ser desenvolvido nas instalações do Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto, em Évora, desde 2021”, e a instalação da fábrica em Ponte de Sor é um “motivo de incentivo na nossa estratégia”. Em breve, o autarca conta anunciar novidades, uma vez que o município conseguiu atrair duas novas empresas, nas áreas da aviação executiva e manutenção de aeronaves de grande porte.