Farhadullah Naibkhil e Nazia, grávida de seis meses, e os filhos mais novos aterraram no Aeroporto de Figo Maduro, a 27 de agosto, e fazem parte dos 24 afegãos trazidos por militares portugueses. Conseguiram fugir de Cabul, mas deixaram lá o filho Saad.
Corpo do artigo
Saad, cinco anos, corre pela sala da nova casa, num bairro de Cascais, atrás dos irmãos, Huzaifa, oito, e Salma, dois, despreocupado e feliz. Foi o último da família a chegar a Portugal, em novembro. Os pais, Farhadullah Naibkhil e Nazia, grávida de seis meses, e os irmãos aterraram no Aeroporto de Figo Maduro dois meses antes, a 27 de agosto, e fazem parte dos 24 afegãos trazidos por militares portugueses. Nesse dia, Farhadullah viveu um misto de emoções. Conseguiu fugir de Cabul, mas deixou o filho Saad.
"Estavam perto de 30 mil pessoas no aeroporto a tentar fugir. No meio da confusão, o meu filho desmaiou e foi para o hospital. Esperamos que voltasse, mas, ao início da tarde, uma bomba explodiu e os militares portugueses disseram-me que era um risco sair dali e que não podíamos esperar mais. Tive de decidir vir", recorda emocionado. Saad ficou com o primo Massihulah e a 16 de novembro veio com ele num grupo de 210 afegãos, a maioria familiares dos que já estavam em Portugal.
Num dia de muita emoção, a família voltou a reunir-se e Farhadullah teve a certeza: "Não quero voltar para Cabul, mesmo que a situação melhore. O meu presidente disse que ia de férias e não voltou. Deixou-nos assim, sem nada. Por isso, sou português agora", diz convicto, não escondendo a gratidão pelo país que o acolheu. "A situação em que estamos agora não era possível sem a ajuda dos militares portugueses".
À espera de um emprego
A fuga começou em agosto, quando os talibãs ocuparam Nangarhar, província do Afeganistão onde a sua família vivia. "Trabalhava no Corpo de Comandos do Exército Afegão com militares portugueses, é daí que os conheço. Era muito difícil continuar lá tendo trabalhado no exército", explica. Formado em Engenharia Civil, Farhadullah tinha "uma vida boa" em Nangarhar. "Ganhava um bom salário, tinha casa e carro, água grátis e a comida era mais barata. No Afeganistão sete quilos de maçãs custam o mesmo que um quilo de maçãs cá", diz.
Em Portugal tem casa municipal e cada membro da família recebe 150 euros do Estado. Dos 24 afegãos que Portugal acolheu, segundo o Alto Comissariado para as Migrações, 10 já estão a trabalhar. Farhadullah deverá ser o próximo. "Fui a uma entrevista na minha área profissional e esta semana já devo saber se fico, estou motivado", partilha. Em Cabul ainda tem família, que espera um dia trazer. "Sempre que a minha mãe fala comigo chora. Está feliz por eu estar aqui, mas tal como os meus irmãos, alguns que trabalharam com o anterior presidente, corre perigo de vida".
O sobrinho Massihulah, 22 anos, deixou pais e irmãos. "Quando os talibãs chegaram a minha casa, o meu pai disse para tentar fugir com os meus tios. Sou um sortudo por estar aqui", diz, sem conter as lágrimas. Ambos gostam de Portugal, onde "as pessoas são boas", mas Farhadullah reconhece que vai ser difícil quando a filha crescer e quiser tirar fotografias. "Quando casei com a Nazia não houve fotos. Lá é assim".