No 25 de Abril, Luís Braga da Cruz, hoje presidente da Fundação de Serralves, estava naquele que sempre foi o seu primordial poiso profissional, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. "Na véspera, juntamente com outros colegas, assumira o compromisso, com o prof. Correia de Araújo, para iniciar o doutoramento, e lembro-me que o meu projeto era 'Instabilidade elástica em placas quadrangulares'".
Corpo do artigo
Coisas da engenharia civil e das estruturas que ficaram pelo caminho. "É necessário acrescentar que alguns não o chegaram a fazer, por no dia seguinte outras distrações lhes terem desviado as atenções, como foi o meu caso. Outros, mais persistentes, lograram fazê-lo", explica, entendendo-se bem como as distrações de um país em mudança acelerada falaram mais alto.
Braga da Cruz cumprira o serviço militar entre 1966 e 1969, na arma de Engenharia (por ser bem classificado não chegou a ser enviado para a guerra), mas em 1973 foi chamado para o curso de capitães, o que lhe permitiu, no seio da instituição militar, apreender os movimentos contestatários que se formavam: "Apercebi-me de que havia alguma coisa no ar".
Desde 1972 que fazia parte da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, a par de figuras como Paulo Vallada, Artur Santos Silva ou Amândio de Azevedo. "Tínhamos a noção de que o regime estava a chegar ao fim", explica, lembrando debates "num andar acima do café Convívio", no Porto, como aquele, já perto do fim do Estado Novo, em que participou Francisco de Sá Carneiro, depois de este decidir abandonar a Assembleia Nacional.
"Muitos associados da SEDES acabaram por aderir ao PPD, mas eu não", explica o homem que liderou a Comissão de Coordenação da Região Norte nas décadas de 80 e 90, tendo ainda sido ministro da Economia no último Governo de António Guterres.