Mais de 1300 alunos de 52 turmas de cinco concelhos do Algarve terão aulas em casa até ao fim do ano letivo. Pais e diretores surpreendidos com decisão à última hora.
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A "grave situação" epidemiológica da covid-19 no Algarve motivou a suspensão do ensino presencial do 1.º e 2.º ciclos nas escolas de Faro, Loulé, Albufeira, Olhão e São Brás de Alportel. Mais de 1300 alunos de 52 turmas dos cinco concelhos estão em isolamento. Há 78 estudantes infetados com covid-19. No entanto, apesar do fecho das escolas, os centros de atividades de tempos livres (ATL) podem continuar a funcionar sem qualquer restrição.
A proposta de suspensão das atividades letivas presenciais "surge por parte dos meus colegas, autoridades de saúde locais, que começavam a sentir que, diariamente, estavam a enviar para casa, em isolamento profilático, várias turmas. Nalguns concelhos, como Albufeira e Loulé, eram quatro ou cinco turmas por dia", justificou, na segunda-feira, a delegada regional de saúde, Ana Cristina Guerreiro.
"Quando a taxa de prevalência na comunidade é muito elevada, começa a ser mais difícil de controlar o número de casos nas escolas e a transmissão escolar, e estes municípios estavam com taxas de incidência a 14 dias muito elevadas", acrescentou. A medida para "conter cadeias de transmissão" foi anunciada no domingo, ao início da noite, com efeitos no dia seguinte e durante 12 dias, coincidindo com o final do ano letivo, sem aviso prévio aos pais e aos diretores das escolas.
O diretor do Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa, em Faro, lamentou que a informação só tenha chegado "à hora do jogo da seleção nacional", obrigando a um "enorme esforço para ativar o plano de contingência para as aulas à distância e avisar a comunidade escolar". Francisco Soares garante que "há encarregados de educação que foram apanhados de surpresa e não tiveram tempo de se adaptar. Alguns estão em sérias dificuldades, porque têm de trabalhar, mas também têm de deixar os filhos em segurança".
Surtos no desporto
O presidente da Câmara de Faro criticou a falta de diálogo e a forma como foi comunicada a decisão. "Fiquei a saber pelo comunicado, o que é lamentável. Devia haver uma articulação connosco. As próprias escolas tinham refeições contratadas. A decisão foi tomada muito em cima da hora", lamentou Rogério Bacalhau.
Para a Federação Regional das Associações de Pais do Algarve, a decisão "afeta dramaticamente muitas famílias, com muito pouco tempo de antecedência para programarem as suas vidas nas próximas duas semanas". O presidente Nuno Sousa questiona "se estas duas semanas em regime à distância deverão ser consideradas para efeitos de avaliação", recordando que "nem todas as famílias dispõem dos recursos necessários ou das mesmas condições domésticas". Falta saber ainda se "o apoio do Estado permanece para os pais" que tenham de ficar em casa com os filhos menores de 12 anos.
O Ministério da Segurança Social explica que os pais das crianças até 12 anos em isolamento profilático têm faltas justificadas e recebem a 100%, mas precisam de apresentar a declaração da autoridade de Saúde. O JN questionou a Direção Geral de Saúde, mas esta não deu informações em tempo útil.
No entanto, ao contrário das escolas, os centros de Atividades de Tempos Livres permanecem abertos. "Não quisemos afetar mais a vida das pessoas, mas vamos gerindo caso a caso", sublinhou a delegada regional de saúde. Há várias equipas desportivas em isolamento, relacionadas com os surtos escolares, envolvendo modalidades como dança, hóquei e basquete. Mas a frequência dessas atividades não foi suspensa.
Rastreio
840 testes positivos desde março
Desde que as aulas presenciais foram retomadas (em abril) foram realizados mais de 600 mil testes à covid-19 na comunidade escolar (professores, funcionários e alunos do Secundário). Segundo o Ministério da Educação, a taxa de positividade nos testes foi de 0,14%, o que corresponde a cerca de 840 infeções.
A realização de testes obedece aos critérios estabelecidos pela Direção Geral da Saúde (DGS), nos concelhos com taxa de incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes, por determinação da autoridade de saúde local.
Ao que o JN apurou, mesmo nos casos em que os surtos obrigam ao encerramento de estabelecimentos, as escolas de acolhimento continuam a funcionar para garantir o acesso a refeições pelos alunos de agregados mais carenciados.
Saber mais
Autoagendamento para maiores de 33 anos
A ferramenta informática de autoagendamento para a vacinação contra a covid-19 ficou, na segunda-feira, disponível para as pessoas a partir dos 33 anos de idade. Há uma semana tinha aberto para os maiores de 37.
Números a subir
Os dados de segunda-feira davam conta de mais 902 novas infeções por covid-19 registadas em 24 horas. Havia 32071 casos ativos. Deste 24 de março que o número não era tão alto (32332).
Mais de 500 internados
O número de pessoas hospitalizadas passou o patamar dos 500 (502), mais 25 do que na véspera. É preciso recuar até 6 de abril para encontrar tantos doentes internados. Em cuidados intensivos estavam 115.
Incidência a subir
A taxa de incidência no continente subiu de 138,7 para 161,7 casos por 100 mil. O Rt baixou de 1,15 para 1,14.
Duas mortes registadas
Uma das vítimas era um homem entre os 50 e os 59 anos. A outra uma mulher com mais de 80 anos.
Maior parte dos casos em Lisboa
56,4% das 902 novas infeções relatadas registaram-se na região de Lisboa e Vale do Tejo (509).