MAPIE foi testado em 102 agrupamentos de escolas em 61 municípios, envolvendo 100 mil estudantes. Será alargado a mais estabelecimentos.
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Concebido para identificar precocemente os alunos em risco de chumbarem ou de abandonarem o sistema de ensino, através do desenvolvimento de um algoritmo que emite alertas, o MAPIE - Mapa de Alerta Precoce do Insucesso Escolar evitou 1281 retenções, em todos os níveis de escolaridade, desde 2018. A garantia é de Frederico Almeida, relações-públicas da start-up tecnológica, que assegura que o software permitiu ao Estado poupar 5,7 milhões de euros.
Frederico Almeida revela, ao JN, que o impacto da aplicação no projeto-piloto em 102 agrupamentos de 61 municípios, num universo de cerca de 100 mil alunos, foi medido pela Universidade de Coimbra, com base no custo anual por estudante, calculado pelo Tribunal de Contas em 4415 euros. Três anos depois, foram introduzidas melhorias no software e a expectativa é passar a apoiar os docentes de cerca de 270 agrupamentos escolares até 2022 e internacionalizar o projeto.
Durante a apresentação do software, que decorreu em julho, no Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, Tiago Braga, diretor-executivo do MAPIE, explicou que o serviço online opera com base num algoritmo, que identifica as matrizes de risco de todos os alunos. Aproveitamento, comportamento e assiduidade são os três pilares monitorizados, de uma "forma rigorosa, objetiva e com base em critérios científicos".
Insucesso silencioso
"O MAPIE não analisa apenas os casos mais evidentes, mas sobretudo os silenciosos, que passam despercebidos, o que significa que há mais probabilidade de ajudar esses alunos a recuperar", esclareceu Tiago Braga. "São emitidos alertas visuais em forma de gráficos, de fácil leitura, que permitem a deteção precoce e a monitorização contínua dos fatores de risco". Feito o diagnóstico, compete às escolas definir medidas para combater o risco de insucesso ou de abandono.
"Se tenho matrizes concretas, não posso ter soluções uniformes. Daí a necessidade de encontrar ações dirigidas", defendeu, na ocasião, João Costa, secretário de Estado da Educação. "Não podemos assumir que os alunos são uma massa indistinta e homogénea e que está tudo nas mãos deles, porque a corrida é muito desigual", alertou.
Contudo, João Costa sublinhou que os resultados dos indicadores não devem ser encarados como uma fatalidade e lembrou que a educação pode fazer a diferença. "A ideia de que os alunos mais pobres ou cujos pais têm mais baixas qualificações estão condenados ao insucesso não encontra fundamentação nas evidências que temos."
Marinha Grande
Retenções caem para metade
Após o MAPIE ter sido testado no Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, o número de retenções reduziu de quatro, em 2020/2021, para duas no ano letivo passado. "Identificámos alunos que podiam ter passado à margem, porque estavam numa franja muito ténue", confirma Cesário Silva, presidente do agrupamento. "Se não tivéssemos atuado, o resultado não seria o mesmo", assegura. Todavia, defende que tem de se ir além da questão académica, e pensar no bem-estar social e na saúde mental dos estudantes.
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Equipas alargadas
Membro da estrutura de missão do Programa de Promoção do Sucesso Escolar, Teodolinda Magro aconselhou o envolvimento de equipas com docentes e técnicos especializados.
Projeto premiado
O MAPIE foi o vencedor do Data for Change Nova SBE 2020 e recebeu o Prémio Santa Casa Challenge 2019.