Hospitais com subida de casos há três semanas. Possível início do período epidémico, aponta INSA.
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No ano passado nem se ouviu falar dela; este ano chega às portas da primavera. Há três semanas que os hospitais estão a reportar um aumento de casos de gripe, a maioria do tipo A, e o Instituto Ricardo Jorge admite que estamos num possível início do período epidémico. Esta gripe tardia, dizem os especialistas, está diretamente relacionada com o impacto da pandemia na circulação dos vírus respiratórios e com o recente alívio de restrições.
Está a acontecer por toda a Europa e não é necessariamente mais grave. Mas é totalmente fora do comum que o início da época gripal surja em março, mês em que tradicionalmente a circulação do vírus influenza está em queda.
Segundo o último boletim de vigilância da gripe do INSA, o número de casos reportados pelos hospitais está a crescer há três semanas consecutivas, contrariando a tendência de descida registada desde o Natal. Na semana de Carnaval foram detetados 165 casos positivos, todos gripe A, indica o relatório (que soma 615 casos desde novembro e 33 coinfeções de gripe e SARS-CoV-2). Um aumento também relacionado com os surtos ocorridos após festas que juntaram centenas de adolescentes, em Leiria e no Porto (ler ao lado).
A procura dos serviços de saúde acompanha a tendência. Na Urgência de Pediatria do Hospital de S. João, a pressão subiu nas últimas duas semanas. "Na segunda-feira, tivemos mais de 300 atendimentos", avança o diretor do serviço, Ruben Rocha. Só os casos que levantam mais preocupação são sujeitos a pesquisa do vírus e o laboratório tem confirmado "um acréscimo do influenza". Na Urgência de Pediatria do Hospital de Gaia também há maior procura. Em ambos os casos, não houve alterações nas taxas de internamento.
Metade com 15-45 anos
"Há uma circulação tardia do vírus da gripe, mas era expectável que pudesse acontecer com o alívio das restrições. Além disso, nesta semana houve uma descida da temperatura média e quando isso acontece há um aumento da circulação dos vírus", explica, ao JN, a coordenadora da rede de médicos-sentinela do INSA.
Ana Paula Rodrigues adianta que dados provisórios indicam que cerca de 50% dos casos têm entre 15-45 anos, o que está em linha com o habitual no início das epidemias. As crianças e os mais velhos estão a ser menos afetados. É importante que isso se mantenha, alerta a responsável, recomendando a manutenção dos cuidados não farmacológicos aprendidos com a covid-19 (higiene das mãos, etiqueta respiratória, resguardo em caso de infeção) para proteger os mais vulneráveis.
Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular, salienta que o tipo A do vírus da gripe merece mais atenção do que outras variantes, mas acredita que, "a não ser que surja alguma surpresa, a atividade da gripe será naturalmente controlada" com a chegada da primavera.
Também o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, admite que está a haver em Portugal uma "anormal disseminação" do vírus da gripe A e apela à adoção de medidas de proteção usadas para a covid-19.
SABER MAIS
Surto em Leira
Na semana do Carnaval, o Hospital de Leiria atendeu, em dois dias, cerca de 430 jovens, dos 14 aos 25 anos, com sintomas de gripe. A procura disparou após um boato de surto de legionela entre adolescentes que frequentaram uma discoteca. A maioria foi gripe A.
Idêntico no Porto
Na mesma semana, foi diagnosticada gripe A a dezenas de jovens que haviam passado a noite de Carnaval num bar do Porto. O Hospital de S. João atendeu mais de 300 crianças e adolescentes na Urgência de Pediatria na última segunda-feira, um número acima dos habituais 200/250 casos por dia.
Pela Europa
Pelo menos dez países da Europa estão a reportar uma circulação crescente do vírus influenza.