A recomendação do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) no sentido de as pessoas vacinadas contra a covid-19 poderem deixar de usar máscara em contextos específicos levantou algumas reticências junto da comunidade médica, mas também há especialistas que a veem como um incentivo à vacinação.
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Num documento emitido anteontem sobre o aligeiramento de algumas das medidas de combate à pandemia, à medida que a vacinação avança no espaço da União Europeia, o ECDC admite que, "quando indivíduos totalmente vacinados encontram outros indivíduos totalmente vacinados" ou quando "um indivíduo não vacinado ou indivíduos não vacinados da mesma família, ou bolha social, se encontram com indivíduos totalmente vacinados", se possam levantar restrições, como o distanciamento físico e o uso de máscara.
Na opinião de Henrique Cyrne Carvalho, presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), "ainda é cedo" para avançar com este tipo de medidas. Do "ponto de vista do conhecimento científico, ainda não é clara a condição de transmissibilidade do vírus em pessoas vacinadas. Mesmo que não seja para se protegerem, devem ter a obrigação de proteger terceiros", explicou ao JN.
Pandemia não controlada
O diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto, lembrou que as escolas médicas defenderam o uso de máscara ainda quando não era recomendado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), argumentando que, com o desconfinamento progressivo, é possível constatar que "as pessoas têm dificuldade em manter o distanciamento" requerido para que não seja necessário usar máscara. "Parece-me muito extemporâneo. A pandemia está longe de estar controlada e ainda não há uma imunização de grupo estabilizada", acrescentou.
De acordo com Filipe Froes, coordenador do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a covid-19, as recomendações do ECDC surgiram após o congénere norte-americano CDC se ter pronunciado no mesmo sentido. "Visa começar a adaptar e a preparar as sociedades para o número crescente de pessoas vacinadas. Se é certo que em contextos de risco de transmissão as medidas de prevenção e controlo se mantêm, já nalguns contextos, nomeadamente quando todas as pessoas presentes estão vacinadas, essas medidas podem ser aliviadas", disse. O pneumologista do Hospital Pulido Valente, em Lisboa, defendeu que "isto é mais uma vantagem para as pessoas se vacinarem" e que "o caminho para a normalidade" passa pela inoculação dos cidadãos.
Os dados de ontem da DGS apontam para 636 novos casos de infeção diagnosticados em 24 horas, mais 26 do que na véspera, e quatro óbitos (o mesmo número de quarta-feira). Os internamentos baixaram: menos dois doentes no total e dos cuidados intensivos saíram seis internados.