O impacto da pandemia de covid-19 nos alojamentos locais (AL) em Lisboa e no Porto, durante o ano passado, representou uma perda de 136 milhões em receitas para os alojamentos e de quase quatro milhões em imposto para as autarquias. Os números constam de um relatório recentemente publicado pela Nova SBE que analisou as estadias naquele tipo de alojamento nas duas maiores cidades do país.
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O estudo Impact of Covid-19 on Tourism and Hospitality: Evidence From Airbnb implicou a recolha de dados junto de mais de 50 mil estabelecimentos (70% dos quais na capital), e demonstrou que as reservas, preços e receitas diminuíram significativamente desde a pandemia.
Qiwei Han, investigador que coordenou os trabalhos, diz que o estudo calcula não apenas as perdas que advêm da diferença de ocupação entre 2019 e 2020, mas tem em consideração também o "crescimento esperado para o setor, tendo em conta as tendências do mercado". As informações são pistas para ajudar o mercado a "saber como agir e como recuperar", acrescenta.
Segundo o estudo, na capital perdeu-se uma média de 5200 reservas diárias desde a pandemia e, no Porto, 2000. Mesmo nos meses de verão de 2020, a época alta turística em Portugal, o número de reservas ficou muito aquém do nível do ano anterior, "balizado entre as 13 611 (Lisboa) e as 5839 (Porto) reservas diárias registadas em 2019", escreve a faculdade. A descida média nos preços das reservas desde a pandemia foi de quatro euros.
Em Lisboa, a perda de receitas foi "superior a 113 milhões de euros, no ano de 2020". Já no Porto, "a perda total de receitas estimada é de 23 milhões de euros para o mesmo ano".
Poupanças e "Lay-Off" decisivos
Os municípios de Lisboa e Porto sofreram uma grave perda nas receitas do imposto de ocupação: em Lisboa, a perda na receita fiscal está estimada em 2,8 milhões de euros em 2020. No Porto, estima-se uma perda de um milhão de euros no mesmo período.
Por quantificar estão ainda outros "impactos financeiros grandes na economia local", refere o investigador, já que a falta de turistas impacta os restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.
Os números de Qiwei Han evidenciam dificuldades que as famílias ou empresários que têm estes alojamentos sentiram na pele. No Portuense Alojamento Local, onde a pandemia fez as reservas caírem de forma "abrupta", um dos elementos da família que explora o espaço contou ao JN Urbano que a funcionária da limpeza foi dispensada e foram as poupanças e outras atividades profissionais de alguns elementos da família que suportaram os encargos fixos e impostos, evitando que as portas encerrassem de vez.
O Sleep in Centre, também na Invicta, enfrentou igualmente dificuldades e agradece a ajuda proporcionada pelo Governo com os "lay-offs", que permitiu segurar os postos de trabalho, conta Afonso Miranda. O empresário tem também um AL na cidade de Aveiro, onde, diz, o impacto foi menor.
A partir de junho notou-se uma ligeira melhoria, embora com grandes discrepâncias entre as diferentes regiões do país
Ao Samesame, em Lisboa, valeu ter uma estratégia de estadas mais prolongadas para ter conseguido segurar a ocupação nos 60% durante a pior fase da pandemia, ainda assim, bem abaixo do esperado, contou Filipa Meireles, daquele co-living.
Segundo a Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP),que ressalva ainda estar a recolher dados, até ao mês de junho, o ano em curso parece ter sido "pior" que o anterior. "A partir de junho notou-se uma ligeira melhoria, embora com grandes discrepâncias entre as diferentes regiões do país".
Várias famílias e empresários têm procurado desenvolver estratégias para minimizar os constrangimentos financeiros. "Nalguns casos, houve uma aposta em novos segmentos, como o de média duração (nómadas digitais, trabalhadores remotos). Noutros, houve uma aposta no setor da educação (estudantes)", escreve a ALEP. Em algumas áreas, com destaque para os grandes centros urbanos, "assistiu-se a um número razoável de saídas do AL (arrendamento de longa duração, uso próprio e até venda do imóvel)".
Longa do registo pré-covid
Segundo a Confidencial Imobiliário, os meses de julho e agosto deste ano animaram o setor em Lisboa e no Porto. Em comunicado, a imobiliária adianta que, na capital, a ocupação média foi de 43% em julho e um ponto percentual a menos em agosto. A média da receita por quarto também subiu neste período, sendo agora de 35 euros. Noutras alturas, a pandemia levou o indicador a descer abaixo dos 10 euros.
No Porto, escreve a Confidencial Imobiliário, a ocupação média foi de 40% em julho e de 39% em agosto. Durante as piores fases da pandemia, os preços desceram, mas atualmente a média anda nos 30 euros.
Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, considera que este é um registo "bastante robusto", tendo em conta a pandemia. Ainda assim, o mercado "continua longe do registo pré-covid, pois no verão de 2019 a ocupação em Lisboa e no Porto rondava os 65% a 70%".
Os AL contactados pelo JN Urbano confirmam a tendência. No Portuenses já se nota alguma procura e neste último verão as taxas voltaram a chegar perto dos 100%, apesar de as reservas serem mais curtas e feitas com pouca antecedência. No Sleep in Centre, entre meados de junho e meados de setembro, a procura aumentou, com as reservas a chegarem "aos 60% a 70%". O Samesame também viu a procura aumentar nos últimos meses e a ocupação ronda, atualmente, os "95%".