<p>Este ano é farto em eleições, as europeias já cumpridas e as próximas legislativas e autárquicas. Os portugueses correm o risco de ouvir ou ler apenas propostas avulsas, raramente bem esclarecidas e coerentes. Se assim for, ficarão sem dados necessários para as suas escolhas, correndo o risco da alienação provocada pela retórica dos discursos dos políticos, de quem já tanto descrêem. Veja-se como a abstenção é tão grande e como tantos se desinteressam da importância democrática dos seus votos.</p>
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Um grupo de católicos enviou, em carta aberta, questões a todos os partidos concorrentes às próximas eleições legislativas, para ajudar os eleitores, devidamente informados, a "votar em liberdade de consciência esclarecida".
O documento, de 22 de Junho último, é assinado por mais de seis dezenas de personalidades, entre elas, Bagão Félix, Gentil Martins, Fausto Quadros, Isilda Pegado, João César das Neves, Manuel Braga da Cruz e Matilde Sousa Franco.
Entendem a sua iniciativa como "gesto de cidadania" e de "responsabilidade democrática", a que juntam a exigência "moral enquanto cristãos", esperando que a sua atitude interesse a "todos os eleitores, católicos ou não", desejosos de "esclarecimento".
Citam a nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, de 23 de Abril último, com o título "Direito e dever de votar", para enunciar os critérios de uma boa escolha política.
Enumeram os critérios seguintes: "promoção dos direitos humanos; defesa e protecção da instituição familiar, fundada na complementaridade homem e mulher; respeito incondicional pela vida humana em todas as suas etapas e a protecção dos mais débeis; procura de solução para as situações mais graves: direito ao trabalho, protecção dos desempregados, futuro dos jovens, igualdade de direitos e melhor acesso aos mesmos por parte das zonas mais depauperadas do interior, segurança das pessoas e bens, situação dos imigrantes e das minorias; combate à corrupção, ao inquinamento de pessoas e ambientes, por via de alguma comunicação social; atenção às carências no campo da saúde e ao exercício da justiça; respeito pelo princípio da subsidiariedade e apreço pela iniciativa pessoal e privada e pelo trabalho das instituições emanadas da sociedade civil, nomeadamente quando actuam no campo da educação e da solidariedade".
Dizem que essas questões são importantes para os eleitores, em particular para os cristãos, que não querem "trair a sua consciência".
Esperam respostas dos partidos, de que darão conhecimento público para que os interessados avaliem se podem ou não votar nas suas propostas.
É apenas a iniciativa de um grupo de católicos. Não obriga ninguém. Entre católicos, há um legítimo pluralismo de opções, mas também há questões incontornáveis, para "votar em liberdade de consciência esclarecida".
O bispo de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias, consciente da falta de padres, desafia a sua diocese a "investir na formação de pessoas capazes, de pessoas com fé e sentido eclesial", bem como a "confiar e distribuir tarefas, preparando o presente e, sobretudo, os tempos que se aproximam com a resposta possível e adequada". Louva o trabalho que os leigos já fazem nas celebrações da Palavra na ausência de presbítero e outras actividades importantes de evangelização. Espera que esse trabalho prossiga e se alargue a mais leigos, para que os sacerdotes "centralizem a sua vida e acção no essencial e específico". No seu recente esclarecimento sobre nomeações de alguns párocos, tem uma palavra oportuna que sugere atitudes elegantes entre os seus padres. Di-lo assim: "Quando um pároco sai de uma paróquia não pode ceder à tentação de continuar a sê-lo sem o ser. Isto é, continuar a andar por lá a fazer casamentos e baptizados. (…) São atitudes de quem sai muito pouco elegantes para quem entra. O padre não se prega a si mesmo nem centra em si as atenções. Prega e aponta Jesus Cristo como o único mediador e salvador". O problema pode parecer menor, mas não é bom que os padres se atropelem uns aos outros. Ninguém é insubstituível. Quando os padres apenas satisfazem caprichos, não ajudam as pessoas a crescer nas suas comunidades.