Há concelhos do país que estão a contrariar a perda da natalidade com a captação de alunos estrangeiros para as secundárias.
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Só assim as escolas conseguem manter as turmas, especialmente de cursos profissionais. O fenómeno não é exclusivo do interior. Em Lisboa, por exemplo, também há escolas onde um terço dos alunos são de outras nacionalidades.
Albertina Sousa entrou na Patrício Prazeres, em Lisboa, em 1990, para dar aulas de Português no Secundário. A escola tinha mais de dois mil alunos. Hoje, são 800: 29% (cerca de 230) são de 22 nacionalidades e o agrupamento já só oferece até ao 9.º ano.
"Um dos grandes desafios da educação passa pelo acolhimento destes alunos", defende João Rodrigues, professor de Português língua não materna na Patrício Prazeres.
De acordo com a informação do Ministério da Educação, em 2016/ 2017, Oleiros era o concelho do país com maior percentagem de alunos estrangeiros no Secundário (21%). Vila de Rei surgia em segundo, com 19%. Os dois concelhos do distrito de Castelo Branco têm protocolos com Cabo Verde e São Tomé. Ao nível do Ensino Profissional, Penacova e Vila de Rei chegam aos 44%. No Básico, em Vila do Bispo, um terço dos alunos do 1.º Ciclo são de outras nacionalidades.
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53 mil estrangeiros
No ano letivo 2016/ 2017, estavam inscritos nas básicas e secundárias 53761 alunos estrangeiros - menos 28 663 do que em 2009 mas mais 2633 do que no ano anterior. Regista-se uma subida desde 2015. Resultado da recuperação da crise financeira com repercussão no fluxo migratório mas não só, frisa Pedro Calado. A alteração à lei da nacionalidade, em 2007, permitiu nacionalizar quase meio milhão (dez vezes mais que na década anterior) e, em consequência, esses alunos deixaram de ser contabilizadas como estrangeiros.
"Uma oportunidade"
"Os migrantes são uma grande oportunidade para as nossas sociedades", frisa o Alto-Comissário para as Migrações (ACM).
Pedro Calado assume que "muitos municípios e escolas profissionais desenvolvem acordos bilaterais" para acolherem alunos estrangeiros. "Conhecemos diversos casos de sucesso em que as soluções permitem um ganho triplo: para os países de origem que podem qualificar os seus quadros, para as comunidades locais que se rejuvenescem e captam investimento e para as próprias pessoas, que encontram oportunidades e recursos que, de outra forma, não conseguiriam", alega.
"Há escolas com 40 nacionalidades ", frisa a subdiretora-geral da Educação. Eulália Alexandre também defende que a diversidade "é uma oportunidade que não pode ser vista como um constrangimento". "Não é matéria que se ensine. Aprende-se a respeitar os outros, através do contacto. Sem medo", diz.
"É uma oportunidade para algumas escolas até não correrem o risco de fechar", frisa Filinto Lima. O presidente da Associação Nacional de Diretores (Andaep) garante que, no agrupamento que dirige (Dr. Costa Matos, em Gaia), recebe estrangeiros, principalmente do Brasil, "quase diariamente", o que "é um grande desafio".
Já Albertina Sousa reivindica maior liberdade para criar turmas de integração. Isto é, grupos onde os alunos de Língua não materna possam, nos primeiros seis meses, só ter aulas de Português. É que estes alunos, garante, quando dominam a língua, conseguem bons resultados.