Solidários com as reivindicações dos professores, dezenas de alunos da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares, Gaia, juntaram-se ao protesto dos docentes na manhã desta quinta-feira.
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Concentrados à porta da escola, os professores dizem estar "cansados e esgotados", criticam a imposição dos serviços mínimos e prometem não baixar os braços na defesa dos seus direitos e da escola pública. Ao JN, o secretário-geral adjunto da Fenprof lamentou que algumas escolas tenham convocado todos os professores para cumprir serviços mínimos e garantiu que haverá mais formas de luta.
Pouco passava das 8 horas desta quinta-feira e à porta da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves já se concentravam dezenas de alunos e professores. Os cartazes que erguiam espelhavam as reivindicações dos docentes. Pedem "respeito", melhores "horários e condições de trabalho", "concursos justos", "uma avaliação sem quotas" e a contagem integral do tempo de serviço que lhes permita uma "aposentação digna".
Os alunos garantem compreender as exigências de quem dedica a vida a ensinar. "Obviamente, estas greves têm impacto nas aprendizagens, mas ao mesmo tempo isto vai ajudar-nos. Precisamos todos disto porque corremos o risco de ficar sem professores para nos ensinar mais tarde", referiu Inês Moreira, de 14 anos, dando, como exemplo, o facto de ter começado o ano sem professores a todas as disciplinas.
Ao lado de Inês Moreira estava Carla Azevedo. É docente de Educação Física há quase três décadas e também não esconde a preocupação com a falta de professores. "Vemos pelos nossos alunos que ninguém quer ser professor", lamentou, considerando que "o ensino está cada vez pior".
"Há materiais nas escolas que somos nós que pagamos do nosso bolso e a burocracia é imensa. A classe docente não está a ter o mínimo de direitos. A tutela tem-nos tirado direitos e não reconhece a educação como um pilar fundamental da sociedade. Não sei o que é que o ministério quer com isto", criticou.
Para Carla Azevedo, as negociações entre o Governo e os sindicatos têm revelado uma "falta de sensatez e honestidade" por parte da tutela. A professora desafia o ministério da Educação a passar pelas escolas e considera que os serviços mínimos são "uma afronta à democracia".
Maria José Costa, professora do primeiro ciclo no Agrupamento de Escolas Soares dos Reis, também discorda da aplicação dos serviços mínimos. "É uma vergonha o ministério estar a pedir serviços mínimos com tantos alunos sem aulas no país todo [por falta de professores]. Mas não vai valer a pena porque os professores estão muito unidos", garantiu.
Pedro Teixeira, professor de Geografia, também garante a união da classe. "Há pessoas no fim da carreira que nunca se manifestaram e, agora, estão na rua", revelou o docente, sublinhando ainda que não serão os serviços mínimos a desmobilizar a luta dos professores.
"O Estado estava com um problema muito grande: os professores estavam na rua, os miúdos a ficar sem aulas, as escolas pararam e o Estado ou cedia nas reivindicações ou tinha que arranjar uma solução para estas greves contínuas. Não se compreende estes serviços mínimos na educação", criticou.
Ao início da manhã, a Fenprof ainda não tinha dados sobre a adesão à greve. "O facto de haver serviços mínimos dificulta fazer esse cálculo. Além disso, a forma como os serviços mínimos estão a ser aplicados varia de escola para escola. Por exemplo, há escolas - e estamos a fazer esse levantamento - em que estão a ser convocados todos os professores para garantir três horas de atividade letiva. Isso vai contra o que está definido no acórdão, que diz que são todas as turmas que têm de ter garantidas três horas letivas", explicou Francisco Gonçalves, secretário-geral adjunto da Fenprof.