Durante vinte minutos, cerca de 40 alunos de quatro escolas portuguesas tiveram a oportunidade de colocar perguntas pré-selecionadas à astronauta Samantha Cristoforetti, que está a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) desde abril. A "Inflight Call", que teve lugar em Lisboa, proporcionou a partilha de experiências, em direto, da vida no Espaço com jovens alunos de escolas portuguesas, italianas e luxemburguesas. Estas sessões só costumam ocorrer a cada quatro a seis anos.
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Henrique Fernandes, 10 anos e aluno no agrupamento de escolas Pedro Eanes Lobato, do Seixal, perguntou à astronauta o que acontece quando a água e o azeite se misturam no espaço. Utilizando um pacote de água e um de azeite, esta demonstrou algo diferente do que acontece na Terra: embora também esteja separado da água, o azeite não fica à superfície, ganhando a forma de pequenas bolhas dispersas por todo o recipiente. "Isto acontece porque não existe flutuação no espaço", explicou Samantha Cristoforetti.
O auditório José Mariano Gago, do Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva, foi um dos palcos europeus que a Agência Espacial Europeia (ESA) selecionou para os alunos colocarem perguntas e observarem a forma como astronautas vivem na ISS. O evento decorreu em simultâneo com escolas italianas e luxemburguesas.
"Terem aqui este contacto com uma astronauta é algo que não acontece muitas vezes na vida de uma pessoa e eles vão, de certeza, lembrar-se deste momento", afirmou Pedro Russo, membro da direção da Ciência Viva. O responsável referiu que este tipo de acontecimentos são muito esporádicos: costumam ocorrer a cada quatro a seis anos, dependendo da disponibilidade dos astronautas.
Além das experiências feitas em tempo real, Samantha Cristoforetti também demonstrou o dia-a-dia dos astronautas na ISS. Para tomar banho, usam uma toalha comprimida numa bola, do tamanho de uma ervilha, que se expande quando entra em contacto com a água.
Diogo Vaz, aluno do 7.º ano no Agrupamento de Escolas n.º 1 de Gondomar, perguntou à astronauta se o estômago funciona normalmente num ambiente sem gravidade. "É normal para os astronautas, que fazem os seus primeiros voos, sentirem-se um pouco enjoados, mas o corpo adapta-se depois de algum tempo. Portanto funciona normalmente", respondeu Cristoforetti.
No fim da apresentação, a astronauta saudou a iniciativa, deixando um repto: "Mantenham o interesse no espaço", pediu.
"Qualquer um pode ser astronauta"
Além do testemunho feito à distância, o palco do auditório também proporcionou uma conversa com Ivo Vieira, fundador da empresa Lusospace (que constrói equipamentos para a indústria aeroespacial), e a cientista Ana Pires, engenheira geotécnica, investigadora e cientista-astronauta portuguesa. Ambos se candidataram, no passado, no processo de Seleção de Astronautas.
"Tentei a minha sorte, fui à descoberta e, mesmo não ter conseguido avançar no processo de me tornar astronauta, isso não me impediu de seguir os meus sonhos", afirmou Ana Pires. A cientista explicou que existem vários locais no planeta que permitem conhecer o espaço, como o estado norte-americano de Utah. "Na Terra, quase podemos tocar na Lua", explicou.
Ivo Vieira também esteve perto de ser astronauta, mas hoje trabalha numa equipa que desenvolve equipamentos que auxiliam os astronautas nas suas missões. "Não desistam dos vossos sonhos, porque qualquer um pode ser astronauta", frisou.
No fim da sessão, os alunos do curso de restauração da Escola Secundária de Camarate prepararam um prato para degustação, como forma de demonstrar como se come no Espaço: um arroz integral com frango de curcuma, baseado na receita que Samantha Cristoforetti levou à Estação Espacial Internacional.