Tinham médias de 20 ou muito perto disso e todas as portas abertas. Eis as escolhas de alguns dos melhores candidatos ao Superior.
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São simplesmente brilhantes e, por isso, tiveram as portas de acesso ao Ensino Superior escancaradas. Carlos escolheu Medicina no ICBAS, Joana preferiu Engenharia Aeroespacial no Técnico, dois dos três cursos com a média de entrada mais alta do país. Alice rendeu-se à Covilhã, onde vai tirar Arquitetura e Rui Pedro ruma a Braga para estudar Informática. São todos alunos nota 20, mais décima, menos décima.
Estar na linha da frente: uma honra
Nem a pandemia que o Mundo atravessa o fez mudar de ideias. Antes pelo contrário: vir a ser um médico na linha da frente seria "uma honra". Carlos Ribeiro, 18 anos, é um dos poucos alunos do país que acederam ao Superior com média de 20 valores. Pôs em primeira opção o curso de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), no Porto. Com tal média, todas as portas estavam abertas, mas Carlos escolheu aquele que lhe pareceu ter "uma abordagem mais dinâmica". Agrada-lhe também a possibilidade de poder ir fazendo cadeiras opcionais e direcionar o estudo para "nichos" de interesse. Esta é uma das alterações ao plano curricular de Medicina que o diretor do ICBAS acredita ter levado tantos candidatos a escolher aquele curso como primeira opção. Henrique Cyrne de Carvalho salienta que, além de Medicina, todos os cursos do ICBAS (Medicina Veterinária e Ciências do Meio Aquático) e os que são lecionados em conjunto com outras faculdades (Bioengenharia e Bioquímica) tiveram, nas respetivas áreas, as notas de entrada mais altas.
Residente em Espinho, Carlos frequentou o ensino público até ao 9.ºº ano e fez o Secundário no Colégio Terras de Santa Maria (na Feira). O desejo de ser médico surgiu já no secundário. Manteve o foco, "a perseverança e aplicação no estudo" e as notas corresponderam. Mas nada está ganho, admite. "Temos de ser humildes e a quantidade de trabalho que aí vem, assusta", diz Carlos.
Sonha com aviões e energias limpas
Vem de Santa Maria, nos Açores, onde está a ser construída uma base espacial. No entanto, não foi isso que lhe despertou o interesse pela área, até porque tem dúvidas sobre o impacto do projeto no ambiente e nas populações. "Não sei se sou muito apologista da construção dessa base", afirma. O desejo de seguir Engenharia Aeroespacial é "um sonho de criança", diz Joana Araújo. Reforçou-o quando começou a adquirir consciência ambiental e, hoje, anseia pelo dia em que os aviões sejam movidos a energias renováveis. "Não sei se terei filhos, mas quero que as gerações futuras possam apreciar o planeta da forma que eu apreciei".
A média de 20 valores abriu-lhe facilmente as portas do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Mais difícil foi a procura de quarto, sobretudo devido aos preços: "mesmo nos arredores é complicado" encontrar um a menos de 300€. Para quem sonha com o seu curso, cita três prioridades: estudar muito, ter confiança em si próprios e nos professores. "Normalmente são grandes orientadores".
"Apaixona-me a forma das coisas"
Tem 17 anos a aluna com melhor nota a entrar na primeira fase de ingresso na Universidade da Beira Interior. Alice Magueta entrou em Arquitetura com 19,6 valores. "Foi a minha primeira opção e, como tinha uma média tão alta, sabia que ia entrar", disse, pelo que há duas semanas foi com os pais procurar casa. Não conhecia a Covilhã, mas gostou da cidade, "acolhedora, fria", como Vila Flor, em Mirandela, de onde vem. Há dois anos, Alice decidiu que esta seria a sua área profissional. Matemática nunca foi problema, até pela paixão natural pelos números. E quando se gosta, os resultados aparecem.
"Nas aulas de Matemática e Físico-Quimíca estava naturalmente atenta. Nas restantes, era tirar apontamentos e trabalhar mais um pouco em casa", diz Alice Magueta, que rejeita ser uma aluna com método de estudo estipulado. Quando anda pelas ruas, a jovem dedica-se a observar a forma dos prédios. "É isto que me apaixona, as formas das coisas, pesquiso muito estes temas na internet", indica.
Desenvolver gosto pela programação
A Universidade do Minho (UMinho) recebeu, este ano, três alunos com uma média de 20 valores. Entre eles está Rui Pedro Oliveira, um bracarense com 18 anos, que escolheu Engenharia Informática, por ser "uma área com muitas vagas de emprego" e onde pode desenvolver o gosto por programação. A proximidade às tecnologias começou no oitavo ano, nas aulas de Tecnologias de Informação e Comunicação.
"Sempre foi uma área que me interessou. O professor ensinou-me a programar, depois fui explorando sozinho. Cinco anos depois, cá estou neste curso", resume o jovem, confessando que Medicina também esteve em cima da mesa. "Há sempre a ideia de que a média de 20 valores é para Medicina, mas fui para a área que mais gosto", sublinha o ex-aluno do colégio D. Diogo de Sousa, em Braga, cidade onde se vai manter.
Rui Pedro Oliveira escolheu a UMinho pela proximidade a casa, mas também "pelas referências bastante positivas" da academia na área da Engenharia Informática. "Não havia razão para escolher outro sítio", considera o jovem, que chegou à excelência não só pelo estudo diário, mas também pelo "espírito de autoconfiança" e pelas bases que adquiriu no 1.º Ciclo. "Não sou uma pessoa que marra muito. E uma nota de 20 no Secundário não se consegue sem um Ensino Primário bastante forte", conclui.