Reservas no Algarve dão para dois anos de consumo humano. Colheitas deste ano e do próximo ameaçadas.
Corpo do artigo
Com o Algarve a viver o inverno mais seco dos últimos anos, os responsáveis políticos e ambientais desdobram-se na procura de soluções para minimizar os efeitos do stress hídrico, que ameaça diversos setores, nomeadamente a agricultura. E, para este, autarcas e ambientalistas defendem "maior racionalização", considerando até a existência de quotas para consumo.
António Pina, presidente da AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve) refere que a preocupação "é se vai chover até abril ou maio", mas sublinha querer "atuar antecipadamente". Destaca os investimentos que serão suportados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), como o JN publicou na edição de ontem (ver caixa), sublinhando as necessidades imperiosas de "poupanças, através da redução das perdas, sobretudo em meios urbanos, que rondam os 30% e da busca de novas fontes".
O responsável sublinha, por outro lado, a necessidade de "atenção especial às atividades que acedem sem nenhum tipo de regulamentação", aos recursos hídricos, nomeadamente a agricultura. "Havendo água é preciso regular o crescimento do setor em função da que existe. Tem de haver uma regulação como existe para a pesca ou para a biomassa", sustenta.
A mesma posição tem José Paulo Martins, da associação ambientalista Zero, que defende a perspetiva de que "há limites para as coisas". "Nos perímetros de rega onde o índice de escassez já mostra que há mais risco de haver anos em que a água pode não chegar, se calhar têm de se manter as culturas temporárias e não avançar tanto para as permanentes", exemplifica.
No plano oposto, Firmino Cordeiro, diretor-geral da Associação de Jovens Agricultores de Portugal, destaca que o setor "já é regulamentado" e qualquer novo projeto "é muito auditado e sujeito a avaliação de impacto ambiental ou de utilização de recursos hídricos". E chama a atenção para a situação particular do Algarve, onde alguns associados revelam que nos seus furos começa a "aparecer cada vez menos água doce e mais salinizada".
Golfe reduz campos
"A situação é delicada. Se não chover mais, não só as culturas deste ano estão ameaçadas como as do próximo", observa.
Outra das preocupações na região é o consumo de água que resulta da prática do golfe. João Fernandes, presidente da Região de Turismo, sublinha porém que estão já em curso medidas como "o aproveitamento de águas residuais, substituição de relvas, ou redução dos próprios campos".
Novas fontes
Dessalinização
O Algarve vai ter a primeira central de dessalinização do continente. A obra tem um custo estimado de 45 milhões de euros e é financiada pelo PRR, devendo entrar em funcionamento até 2025.
Captação
Água captada no rio Guadiana, na zona do Pomarão, vai ser transportada até à albufeira da barragem de Odeleite (Castro Marim), através de uma tubagem adutora.
A saber
60% da água consumida na região do Algarve
é destinada à agricultura, o setor que absorve mais recursos hídricos. O consumo humano representa 32% do total e o turismo 12%.
12 mil empregos diretos e indiretos
estão relacionados com a prática do golfe nos 40 campos para a prática desta modalidade que existem no Algarve.