Ambientalistas exigem exclusão de três áreas marítimas das renováveis offshore
Organizações não-governamentais de ambiente (ONGA) defenderam esta quinta-feira a exclusão de três áreas da proposta preliminar das áreas espacializadas para implantação de projetos de energias renováveis offshore, em consulta pública até amanhã.
Corpo do artigo
Numa posição conjunta divulgada esta quinta-feira, a ANP/WWF, a Sciaena, a SPEA e a ZERO, consideraram determinante que sejam excluídas as zonas marinhas em Matosinhos, Sintra/Cascais e Sines, onde há sobreposição com a Rede Natura 2000.
Entre "preocupações e recomendações", as referidas ONGA entendem que a ocupação de "áreas classificadas" com projetos industriais de energias renováveis offshore constitui "a grande linha vermelha" de todo o processo.
"Identificamos três áreas que se sobrepõem à Rede Natura 2000. Estamos a falar da zona de Matosinhos, mais junto à costa, até 50 metros de profundidade. A zona de Sintra/Cascais e a de Sines, também mais junto à costa, até 50 metros de profundidade. São zonas que são realmente muito importantes para as aves marinhas e para os cetáceos. Consideramos que têm de ser completamente excluídas", indicou Carolina Silva da Zero, esta manhã durante um briefing sobre a proposta em consulta pública, que contou com uma intervenção de representantes da ONGA e da Renewables Grid Initiative, para "enquadramento da questão no âmbito europeu e nacional".
Na sua posição conjunta, aquelas organizações reconhecem "a importância da energia eólica offshore, sobretudo o seu papel incontornável na prossecução dos objetivos ambiciosos a nível de energia de Portugal para 2030", mas colocam limites à implementação de projetos industriais.
"Mesmo sem estas áreas [a excluir], a potência instalada chegaria aos 8,8 GW e isto corresponde sensivelmente a uma produção média anual de 37 terawatts por hora, ou seja cerca de 75% do consumo anual de eletricidade em Portugal", argumentou Carolina Silva, acrescentando que "se pensarmos que, atualmente, 60% da eletricidade que é produzida em Portugal já provém de fontes renováveis, é possível nós excluirmos completamente estas zonas, que se sobrepõem a zonas da Rede Natura e ainda assim colmatar as nossas necessidade de consumo energético e garantir a produção de eletricidade 100% renovável".
Num documento conjunto que prevê "cinco critérios fundamentais, que incluem aspetos ambientais e socioeconómicos", as ONGA consideram necessário que "todos os projetos e localizações devem ser sujeitos a estudos ambientais e avaliações ambientais estratégicas". E que os projetos de energia renovável offshore "têm de ser monitorizados e os resultados dos estudos devem ser públicos", assim como devem ser alvo de um "processo de ordenamento do espaço marítimo", que leve em consideração "o ecossistema e outros usos", como a pesca.
Recorde-se que a proposta em consulta pública tem sido alvo de contestação por pescadores de todo o país.
Comunidades piscatórias em risco
Recentemente, numa reunião em Viana do Castelo, onde ao largo estão instaladas turbinas do projeto WindFloat, consideraram que, a avançar tal como está prevista, a futura exploração de energia offshore numa área "equivalente a 320 mil campos de futebol", vai provocar "o maior deserto oceânico do mundo", e condenar ao desaparecimento as comunidades piscatórias.
No briefing desta quinta-feira, as ONGA anunciaram que "vão participar ativamente na consulta pública" e também continuar "a monitorização das entidades governamentais", em todo o processo. O primeiro passo foi dado agora com a apresentação de "uma proposta conjunta para melhorar a proposta apresentada, assente numa conceção mais rigorosa e holística do ordenamento do espaço marítimo para o desenvolvimento de energias renováveis offshore, com respeito e integração da proteção da vida marinha e da interação com outras atividades, nomeadamente a pesca sustentável".
No passado dia 30 de janeiro a Direção-Geral dos Recursos Marinhos, Segurança e Vigilância Marítima (DGRM) submeteu a consulta pública, até dia 10 de março, a sua proposta preliminar das áreas espacializadas para implantação de projetos de energias renováveis offshore.
Esta quinta-feira à tarde, vai realizar-se em Viana do Castelo, um debate sobre "Energias renováveis offshore: comunidade, sustentabilidade e economia", que inclui o tema da compatibilidade dos projetos com a atividade piscatória. Está prevista a presença dos secretários de Estado do Mar, José Maria Costa, e da Energia e do Clima, Ana Gouveia, além do Diretor Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, José Simão, e a Associação de Armadores de Pesca do Norte, representada por Manuel Marques.