Nasceu em Lisboa, em 1960, e com quase 14 anos viveu intensamente a "Revolução dos Cravos". Manuel João Ramos recorda que, na madrugada do dia 25, "amigos da minha família telefonaram e disseram que os militares estavam a fazer um golpe contra o Governo". "Ficámos a ouvir rádio das 6 até às 8 da manhã, em ambiente de euforia difusa".
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A curiosidade de jovem levou-o, acompanhado por amigos, até junto da Escola Técnica da PIDE-DGS, em Sete-Rios, na ânsia de saber tudo o que se passava, tornando-os "espetadores sôfregos de novidades".
O círculo de amizades da sua família era, razoavelmente, liberal. Habituado a um ambiente artístico e intelectual lisboeta, era quase impositivo ser contra o regime. "Sonhava-se com revoluções e libertações, sabia-se que era preciso cuidado com opiniões públicas radicais, mas quem tinha oportunidade de viajar pela Europa sabia que o país era muito pobre e fechado", relembra.
Manuel retrata o ambiente eufórico, mas também inseguro, de Abril com "amigos que se zangavam a pretexto de oposições políticas, oportunistas que surgiam por todo o lado, gente que, catarticamente, abusava do pequeno poder que descobria ter". Como adolescente conta que a revolução lhe soara a libertadora e angustiante, "uma coisa engraçada mas assustadora, um momento revolucionário e uma fase de rebelião pessoal".
No primeiro de maio assistiu a discursos e interroga-se sobre o porquê de serem determinadas pessoas a falar e não outras ou nenhumas e começa a nascer o sentimento de que "a revolução foi uma oportunidade perdida, em parte porque um país não se reinventa por si quando a sua população não tem os meios intelectuais e formativos para o fazer e porque muito rapidamente a revolução foi raptada por auto-proclamados salvadores". "É pouco motivante o país que deixámos que alguém criasse por nós."