Promete ser uma revolução na deteção precoce do cancro. Um novo exame de sangue, desenvolvido pela empresa norte-americana Grail, pode detetar mais de 50 tipos de cancro mesmo antes do paciente apresentar qualquer sinal ou sintoma clínico da doença.
Corpo do artigo
O estudo foi publicado esta semana na revista da especialidade "Annals of Oncology". Já está à venda nos Estados Unidos e o Reino Unido vai começar a testá-lo em 140 mil pessoas.
Eric Klein, presidente do Instituto de Urologia e Rim Glickman, em Cleveland, Estados Unidos, citado pelo jornal "The Guardian", disse que o teste de deteção de múltiplos cancros, se usado com os testes de rastreio existentes, "pode ter um impacto profundo na forma como o cancro é detetado e, em última análise, na saúde pública". Detetar o cancro precocemente, "quando o tratamento tem maior probabilidade de ter sucesso, é uma das oportunidades mais significativas que temos de reduzir o fardo do cancro".
O teste deteta alterações químicas em fragmentos do código genético (DNA livre de células), que passam dos tumores para a corrente sanguínea. Pode detetar mais de 50 tipos de cancro, até num estágio inicial, e o estudo indica uma taxa de falsos positivos muito baixa.
De acordo com o estudo publicado na "Annals of Oncology", os cientistas analisaram o desempenho do teste em 4077 pessoas (2823 com doença e 1254 pessoas sem doença). O teste identificou corretamente a presença de cancro em 51,5 % dos casos, em todos os estágios da doença. A deteção incorreta aconteceu em apenas 0,5 %.
Em tumores sólidos que não têm opções de rastreio, como o cancro do esófago, fígado e pâncreas, a capacidade de gerar um resultado de teste positivo foi duas vezes maior (65,6%) do que para tumores sólidos que têm opções de rastreio, como o da mama, intestino, cervical e próstata.
A capacidade de gerar um resultado de teste positivo em cancros do sangue, como linfoma e mieloma, foi de 55,1%.
O teste também identificou corretamente o tecido em que o cancro estava localizado em 88,7% dos casos.
No outono, o serviço nacional de Saúde do Reino Unido irá começar também a testar este novo método. Os resultados do teste piloto, que incluirá 140 mil participantes, são esperados até 2023.
Ao "The Guardian", Marco Gerlinger, oncologista do Instituto de Investigação do Cancro de Londres e consultor na Royal Marsden NHS Foundation Trust, sublinhou que esta tecnologia "ainda precisa de ser testada antes de ser usada de forma rotineira", mas "já permite uma visão da deteção precoce do cancro no futuro".