Períodos de chuva previstos em fevereiro não devem inverter a situação de seca em Portugal.
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Seis dos dez anos mais secos em Portugal continental ocorreram depois de 2000, incluindo 2005, o mais seco desde 1931, registando-se uma diminuição dos valores anuais de precipitação em cerca de 20 milímetros por década e que os últimos 20 anos foram "particularmente pouco chuvosos", segundo a responsável da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
A maior frequência de situações de seca meteorológica nas últimas décadas "é indicativa de um aumento do risco e da vulnerabilidade a este fenómeno, o que poderá obviamente trazer um aumento dos impactos, nomeadamente, ao nível dos setores agrícola e hidrológico e necessariamente social", comentou Vanda Pires ao JN, quando a seca está instalada - severa a extrema em 45,7% e moderada em 53,7% do território.
E está para durar. "Será muito provável o agravamento da situação no final de fevereiro", aponta. "Não se prevê a ocorrência de precipitação significativa para a terminar" e, para os períodos de chuva ou aguaceiros, em especial nas regiões Norte e Centro, amanhã e domingo, estão previstos "valores abaixo do normal para a época".
previsão negativa
A previsão a médio e longo prazos indica precipitação total acumulada, neste mês, "inferior ao normal em praticamente todo o território". Para a situação de seca diminuir significativamente ou terminar em fevereiro, seria necessário que nas regiões do Norte e Centro ocorressem quantidades de precipitação superiores a 200 ou 250 mm, acima do normal, e nas regiões do Sul superiores a 150 mm, o que acontece apenas em 20% dos anos.
Segundo a última avaliação das condições meteorológicas, os últimos seis anos hidrológicos (1 de outubro a 30 de setembro) registaram consecutivamente valores abaixo da média no período 1971-2000. Em 19 dos últimos 30 anos (63%) observaram-se variações negativas que, em nove anos (30%), foram superiores a -200 mm.
O mês de janeiro, com um valor médio de precipitação de 13,9 mm (12% do valor normal), foi o sexto mais seco desde 1935 (apenas 2,8 mm). Desde 2000, foi o segundo mais seco, a seguir ao de 2005 (7,2 mm), seguido dos de 2007 e 2017. A escassez foi mais severa no sul e no interior. Em Faro, caíram apenas 0,4 mm, ou seja, 0,6% dos 70,5 mm do valor médio para o mês; em Castelo Branco, a precipitação foi de 3,5 mm (3,5% da média de 101,3 mm).
Comentando ao JN o histórico de anos hidrológicos, a especialista salienta que a redução nos valores de precipitação ocorreu em todas as estações do ano, exceto o outono, tendo sido significativa na primavera. Mas "é importante realçar que o contributo dos dias de precipitação intensa para o total de precipitação tem vindo a aumentar, sobretudo no outono e na região Sul" e que a "a intensidade e frequência de eventos de precipitação extrema têm vindo a aumentar".
episódios marcantes
Nos anos mais recentes, tem-se observado uma maior frequência de episódios de seca meteorológica, alguns dos quais se têm prolongado por mais de um período húmido (outono e inverno) e seco (primavera e verão) e têm abrangido uma maior percentagem do território. Esta situação tem sido notória em todo o território, mas as mais afetadas são as regiões Nordeste e Sul, salienta.
Entre 1941 e 2020, ocorreram vários episódios de seca, destacando-se as dos anos 1940 (1944 e 1945 e entre 1948 e 1949) e desde 2000: 2004/2005, entre 2011/12, 2017/18 e 2019. Desde 1980, já se registaram nove ocasiões em que mais de 10% do território estava em situação de seca extrema e quatro em que mais de 75% de Portugal continental estava em seca severa ou moderada, nota.
Recursos
Menos água
Nos últimos 20 anos, a quantidade de precipitação diminuiu 15% em Portugal e Espanha e estima-se que se reduza entre 10% e 25% até ao final do século. Nesse período, as disponibilidades de água em Portugal baixaram 20%, segundo a avaliação de disponibilidades hídricas.
Consumos
São captados anualmente cerca de seis mil hectómetros cúbicos de água (excluindo a usada nos aproveitamentos hidroelétricos), dos quais 70% são consumidos pela agricultura, 13% pelo abastecimento urbano, 9% em unidades termoelétricas e 6% na indústria.