O primeiro-ministro cessante realçou, esta quarta-feira, que o país cresceu consecutivamente nos últimos oito anos e "10 vezes mais do que nos 15 anteriores". António Costa lembrou o aumento dos salários e das pensões e garantiu que "só tem pena" se o novo Governo não decidir a localização do novo aeroporto.
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No Palácio de São Bento e a 24 horas de Luís Montenegro apresentar o novo Governo ao presidente da República, o primeiro-ministro cessante, António Costa, marcou uma conferência de imprensa para fazer um balanço dos oito anos de governação. Costa começou por lembrar que este período foi marcado por “múltiplas crises” que precisaram de ser resolvidas “sucessivamente” pelo executivo. Em primeiro lugar, a “crise financeira”, admitindo que atualmente o “sistema financeiro está estabilizado”. Lembrou também a “trajetória constante de melhoria das contas públicas”. “Hoje, todas as agências de rating classificam a nossa dívida com nível de investimento”, reconheceu.
Ainda para lembrar as crises que os seus Governos enfrentaram, o primeiro-ministro cessante recuou a 2017, para referir que os incêndios contribuíram para a restruturação do sistema de Proteção Civil, mudando o paradigma do combate aos incêndios. “A totalidade da área ardida entre 2018 e 2023 é 60,7% da área ardida só em 2017”, constatou. Quanto à pandemia, lembrou que Portugal foi o primeiro país a atingir uma cobertura vacinal de 85%. E lamentou que o tempo de alívio foi de “curta duração” porque logo a seguir começou a guerra na Ucrânia, resultando na “maior crise inflacionista em 30 anos” e “obviamente, com impacto muito grande na vida das famílias”.
"Não discuto se é muito ou pouco"
Ultrapassados os “entraves” que ocorreram ao longo dos últimos oito anos, António Costa virou a agulha para os resultados positivos dos seus Governos. Focou-se no crescimento da economia, garantindo que “desde 2016 convergimos todos os anos, menos nos anos da pandemia, crescemos em média 2,6%”, observou. “Não discuto se é muito ou pouco, todos gostávamos seguramente que fosse mais, mas nos últimos anos o país cresceu 10 vezes mais do que nos 15 anteriores”, salientou. Para o primeiro-ministro cessante, este crescimento da economia permitiu criar emprego, sublinhado que há um “recorde de pessoas a trabalhar em Portugal” (cinco milhões). E garantiu que o salário mínimo e o salário médio subiram desde 2015.
António Costa recordou que a pensão média aumentou 23,3% nos últimos oito anos. Além disso, lembrou também as “sucessivas reduções do IRS”, no total de “4,5 mil milhões de euros”, a redução das propinas, os passes gratuitos, e a gratuitidade nos manuais escolares e das creches.
"Abandono escolar precoce passou de 13,7% para 8%"
Contudo, foi no “país mais qualificado” que Costa considerou ter ocorrido a mudança mais estrutural para o futuro. “O abandono escolar precoce passou de 13,7% para 8%, abaixo da meta que a UE tinha estabelecido para 2030”, detalhou. “O número de jovens na universidade passou de 31,9% para 54%. Há mais 42% de empregos qualificados”, acrescentou.
Costa referiu que só com mais empregos qualificados é possível mudar o paradigma da economia portuguesa. “Todos os anos batemos recordes na atração de investimento direto estrangeiro, investimento empresarial aumentou 85%. Os que achavam que para sermos competitivos tínhamos de estrangular salários estavam enganados”, afirmou. O primeiro-ministro cessante vincou que estas mudanças positivas na economia, permitiram “reduzir as desigualdades”. “Existem menos 600 mil pessoas em risco de pobreza e exclusão social”, embora admita que ainda “são taxas muito elevadas”.
Já quanto às alterações climáticas, Costa afirmou que Portugal foi o “primeiro país do mundo a assumir as metas de neutralidade carbónica”. Recordou que, no ano passado, “62% da eletricidade já foi produzida por energias renováveis” e referiu que existe uma “redução de 17% de gases de efeito de estufa face a 2015”. No final da declaração, desejou “as maiores felicidades” ao novo Governo de Luís Montenegro, com quem se vai encontrar esta quarta-feira à tarde.
“Ainda não sou comentador, talvez um dia venha a ser”
Questionado pelos jornalistas, recusou comentar o impasse na eleição do novo presidente da Assembleia da República. “Ainda não sou comentador, talvez um dia venha a ser”, disse. Quanto às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa que antecipou que se pode voltar a encontrar com António Costa em algumas “encruzilhadas”, admitiu que foi uma “forma simpática de me convidar para almoçar ou jantar um dia destes”.
Já sobre a nova localização do aeroporto, lembrou que procurou “encurtar” o prazo da decisão que tentou “executar”, mas “o meu antecessor não deixou”. “O novo Governo está em condições de decidir”. “Só terei pena se não houver decisão. Acho que fiz o que era correto e não me arrependo”, acrescentou.