O primeiro-ministro, António Costa, afirmou, esta segunda-feira, em entrevista à CNN, que está “magoado” com o desenrolar do processo operação Influencer que precipitou a sua demissão. E ficou “frustrado” por ver “pela segunda vez consecutiva interrompido" o seu trabalho.
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"Se me pergunta se estou magoado? Estou. Quem não se sente não é filho de boa gente". "Posso estar magoado, mas não sou rancoroso". As palavras são de António Costa no primeiro dia do Governo em gestão.
Em declarações à CNN, o primeiro-ministro realçou que estava a “ponderar” a demissão, mas o que precipitou a saída foi o último parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República. "Agora, perante um comunicado onde uma pessoa, que não é uma pessoa qualquer, é a procuradora-geral da República, entende comunicar oficialmente ao país e ao mundo que, além de tudo mais, foi aberto um processo contra o primeiro-ministro, tenho um dever que transcende a minha dimensão pessoal. Há uma dimensão institucional na função de primeiro-ministro", justificou.
"Quem exerce as funções de primeiro-ministro não pode estar sob uma suspeita oficial. Já muitas vezes me perguntam: então e se não tivesse havido esse parágrafo? Bom, eu estava a ponderar. Eu tinha pedido ao senhor Presidente da República já nessa manhã uma reunião às 09:30 da manhã, iria ponderar", salientou António Costa.
O primeiro-ministro mostrou-se ainda convicto no funcionamento do sistema judicial e salientou que ninguém “está acima da lei”. "Se há convicção muito firme que tenho é no sistema de justiça, que é muito original, que não tem paralelo, mas onde os cidadãos podem ter a garantia e uma confiança: é que ninguém está acima da lei. Se me perguntam se eu acho normal que seja publicitada, sem que sejam praticados atos idoneidade de uma pessoa, é algo que a justiça deve refletir. Não tenho dúvidas qual é o final da história. Sei que não tive nenhum benefício, nenhum benefício indevido, para além do salário que me é pago", disse.
"E como sou otimista, irritante ou não, estou muito confiante. A razão pela qual eu tenho uma confiança profunda no nosso sistema de justiça é que este ou aquele pode errar, nesta ou naquela fase do processo as coisas podem não ser as que acho que deviam ser, mas há uma coisa sobre a qual eu não tenho dúvidas: no final, o sistema atua corretamente", sustentou.
Indireta a Marcelo e PSD à vista
Antes de participar no debate parlamentar de antecipação da próxima cimeira europeia, Costa deixou ainda uma crítica a Marcelo Rebelo de Sousa por ver o seu “trabalho” interrompido “pela segunda vez consecutiva”. “Sim fico frustrado, porque gosto de fazer coisas”, confessando ter um “travo amargo de ver que fico a poucos meses de concluir aquele trabalho".
António Costa deixou ainda críticas ao PSD sobre o aeroporto de Lisboa. “Ouvir o PSD agora pôr em causa a seriedade e rigor do trabalho de uma comissão técnica independente cujo modelo foi acordado com o PSD, para a decisão do aeroporto, se me pergunta se estou feliz, não estou”, referiu.
No final, em que salientou mais uma vez que está “magoado” mas não é “rancoroso”, o primeiro-ministro em gestão teve ainda tempo ainda para recordar alguns casos mais mediáticos da justiça. Nomeadamente de “Azeredo Lopes, a quem andaram a enxovalhar e que foi absolvido” e de “Eduardo Cabrita que até de homicídio foi acusado”. “Deve ter sido o único passageiro que foi acusado de homicídio e atropelamento”. António Costa dará uma entrevista na noite desta segunda-feira, no primeiro dia do Governo de gestão, à CNN Portugal.