Na próxima segunda-feira, a Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) anunciará os vencedores dos Prémios “Mais a Norte”.
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O presidente da CCDR-N, António Cunha, projeta o futuro da região na atual conjuntura europeia e a importância de premiar os que fazem a diferença, num Norte que, diz, tem investido bem o dinheiro da Europa e recusa ficar para trás.
Que sentido fazem os Prémios “Mais a Norte” na conjuntura atual?
Os prémios recuperam, embora em moldes diferentes, uma iniciativa que já existiu em 2011. Os fundos europeus têm ajudado a mudar o panorama da região, seja na modernização de empresas ou de cidades, sejam projetos ligados à Saúde, à Segurança Social, à Educação. Distinguir os projetos – quer de instituições públicas, quer privadas – que fazem a diferença, é algo que nos parece uma excelente prática.
Estamos a fazer bom uso dos fundos europeus?
Não tenho dúvida que estamos. Podíamos fazer melhor? Podia ser mais rápido? Essa é uma discussão interminável, mas, do lado do programa Norte 2020, é indiscutível que fizemos bom uso dos fundos europeus, havendo magníficos projetos. Alguns exemplos: o i3S no Porto, o AquaValor em Chaves, investimentos em universidades e escolas, os novos mercados – Bolhão, Braga, Famalicão, Esposende, Caminha –, a recuperação de espaços urbanos, o Teatro Jordão (Guimarães), a recuperação do Convento de Santo André de Ancede (Baião). Há uma multiplicidade de projetos a funcionar muito bem, já para não falar em empresas e áreas industriais.
Estes prémios são também uma forma de descentralizar?
Sim, claro. Descentralizar no país e descentralizar também na região, porque, entre os finalistas, há um grupo da Área Metropolitana do Porto, mas também há finalistas de Chaves, Oliveira de Azeméis, Ponte de Lima, Sabrosa, Mirandela ou Melgaço.
Surpreendeu-o o elevado número de candidaturas?
Foram 232. Nós temos seis categorias e, por isso, estamos a falar de mais de 30 por categoria. É um bom número.
E sempre nestas duas vertentes: uma ligada às instituições públicas, outra às privadas?
Sim, porque temos sempre essas duas dimensões com concursos diferentes.
Como antevê o futuro da região neste contexto europeu que é difícil? De que forma é que o Norte se pode afirmar?
A região está, há muito tempo, perante grandes desafios – primeiro, as crises petrolíferas, depois a abertura à China, agora a guerra. O Norte foi capaz, ao longo dos últimos 30 anos, de reconverter a sua indústria. Em 2011, os setores têxtil e calçado representavam 30% das nossas exportações. Hoje, são menos de 20% e o automóvel é o principal. Portanto, o perfil industrial mudou totalmente, a economia terciarizou (cresceu a engenharia e o turismo), e o perfil do trabalhador é, hoje, muito mais qualificado. Há 10 anos, éramos a região com índice de qualificação mais baixo, hoje somos a melhor do país, portanto, acredito que temos bases para uma mudança. Essa mudança passa pela nossa aposta na Educação. Por nos posicionarmos como exemplo para a nova industrialização da Europa e temos muita capacidade para isso, seja em setores que vão ter que crescer, como é o caso da defesa, seja em setores que são tecnologicamente incontornáveis como é os chips (um dos grandes fabricantes mundiais investiu aqui), seja em áreas de ponta como o aeroespacial.
Estamos, portanto, bem posicionados?
Estamos bem posicionados, mas nada está ganho neste momento. Precisamos...
Do TGV?
Certamente do TGV. Precisamos de deixar de estar no fim da linha, de estar ligados, na alta velocidade, para sul (Lisboa) e para norte (Vigo) e conectados com a rede espanhola; precisamos que o nosso aeroporto seja de facto, um “hub” internacional e intercontinental – e há uma grande oportunidade para isso associada até aos constrangimentos do Aeroporto Humberto Delgado –; precisamos de ser capazes de trabalhar com a administração central no sentido de atrair investimentos.
Tem vindo a falar da necessidade de nos aliarmos à Galiza e formarmos uma grande eurorregião. A ideia nem sempre é muito bem acolhida em Lisboa…
Não há ninguém que tenha alguma agenda contra o Norte. Existe é desconhecimento e, por isso, nem sempre as decisões são as mais adequadas.
Mas só tínhamos a ganhar com essa aliança e com esse ganhar de escala?
Nesta nova geopolítica europeia que tem vindo a dar centralidade ao centro oeste da Europa, o nosso principal risco é o de nos tornarmos periféricos. O grande modo de contrariar isso é tendo massa crítica. O norte tem um peso importante: somos a 13.ª região da indústria de manufatura europeia, mas, se nós fizermos essa conta com a Galiza, somos uma das principais regiões, inclusivamente da indústria automóvel e, portanto, aí temos um peso muito maior e uma capacidade de afirmação perante Bruxelas que só nos pode favorecer.
Satisfeito e otimistaportanto?
Os tempos são de incerteza e complexidade, mas estamos melhor preparados. A qualidade do nosso capital humano, da nossa capacidade criativa, da nossa capacidade tecnológica é enorme. Portanto, é com uma fundada esperança de que iremos encontrar um futuro de maior sucesso. A região tem indicadores de trabalho muito interessantes, mas depois, por várias razões, não tem sido capaz de reter a riqueza e esse é o desafio.