Um ano após ter sido o primeiro a ser vacinado, António Sarmento, diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de S. João, defende pacto de regime para reformulação do SNS.
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António Sarmento foi o primeiro a ser vacinado contra a covid-19 em Portugal e, um ano depois, avisa que esta arma contra o vírus não é suficiente e não se pode facilitar nas medidas de proteção. Entre as lições a tirar da pandemia, o médico e diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de S. João, no Porto, defende uma reformulação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com um pacto de regime e uma equipa própria, em vez de "alterações de cosmética". Quer investimento na saúde pública, resposta assistencial e apoio domiciliário.
Quando António Sarmento já tomou a terceira dose, os últimos dados mostram que há quase 8,7 milhões de portugueses com a vacinação primária completa e quase 2,6 milhões com a dose de reforço.
Cuidados são os mesmos
"Sou um crente na vacina", disse ao JN o responsável pelo Serviço de Infeciologia. A propósito da consciencialização das pessoas, pede a todos empenho "na construção do bem comum", mesmo "que não sejam obrigados a isso", pois "ninguém se salva sozinho".
António Sarmento recua até ao século XIX para lembrar que, quando os portugueses iam para o Brasil, toda a tripulação ajudava os marinheiros nas horas difíceis. E uma população está "tanto mais protegida quanto mais unida".
"Mas vacina e mais nada não é suficiente", alerta o médico, embora considere "que é uma forma importantíssima de nos protegermos, até desta nova variante", a ómicron.
Em causa está o facto de, mesmo que todos recebessem a vacina contra a covid-19, esta "não ser eficaz a 100%". E "há sempre uma parte da população que vai apanhar" o vírus. Adepto da máscara, defende que só seja retirada "quando isso for indispensável".
Por desleixo
"Nenhum Governo tem a capacidade de fiscalizar 10 milhões de pessoas", sublinhou António Sarmento, questionado sobre aqueles que defendem o uso obrigatório. O diretor conta ainda que muitos doentes com covid-19 "estão por vacinar quando chegam ao hospital". Mas "não é por serem militantes antivacina", é sobretudo "por desleixo".
"Todos nos dizem que querem ser vacinados", frisa, contando que, para os internados, é "uma doença extremamente incómoda".
Garantindo que a vacina não mudou o modo como lida com os pacientes, lembrou que surgiu muito depois de já estarmos em pandemia. Mantém os mesmos cuidados e "o maior risco é fora do hospital". Dentro, sabe onde estão os doentes.
Nesta pandemia, "o que mais impressionou" António Sarmento "foi ver como a sociedade trata os idosos". Não quer que os lares sejam "depósitos de velhos". E sugere que o Estado "desvie o que gasta a subsidiar lares" para uma aposta em equipas domiciliárias.
A pandemia serviu também, a seu ver, para mostrar a falência do SNS: "desinvestiu-se em tudo o que era saúde pública". E "dá-se dinheiro para remendos, gasta-se, mas não se resolve". Considera, por isso, necessário reestruturar o SNS e que fique claro que serviços de saúde serão financiados.
"Temos gente capaz de o fazer. Tem de haver um pacto de regime e estarem um ano em exclusivo para pensar na reformulação do SNS e fazer uma proposta à Assembleia. Só há medidas pontuais, é preciso uma reformulação profunda", alerta António Sarmento.
Regras
Hospitais
Quem visitar um doente internado ou acompanhar um utente nos serviços do SNS tem de apresentar o certificado digital ou então um resultado negativo de um teste à covid-19.
Hotéis
O acesso a hotéis e alojamento local dependia desde 1 de dezembro da exibição de um certificado digital covid-19 ou, em alternativa, de um teste de antigénio ou PCR negativo nas 48 ou 72 horas anteriores, respetivamente. Porém, com o reforço de medidas anunciado para a época festiva, passou mesmo a ser obrigatório um teste negativo a partir de 25 de dezembro.
Restaurantes
Também o acesso a restaurantes, casinos e festas de passagem de ano exige um teste negativo à covid-19 (30 e 31 de dezembro e 1 de janeiro), e o mesmo se aplica, desde 25 de dezembro, à entrada nos eventos desportivos e culturais, independentemente do número de espectadores.
Centros de vacinação
Os centros de vacinação contra a covid-19 estão encerrados, tal como no período de Natal, também no de Ano Novo, concretamente a 31 de dezembro e 1 de janeiro, segundo anunciou a Direção-Geral da Saúde para dar descanso ao pessoal.