Pedro Marques, professor na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, especialista em redes elétricas, fala ao JN.
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O apagão de ontem era inevitável?
Se a reação fosse rápida, não haveria um apagão em todo o país, mas foi uma perda demasiado grande. Era muito difícil equilibrar a produção e o consumo dos três gigawatts abastecidos por Espanha em segundos. Mas estarmos interligados com Espanha já nos evitou muitos blackouts. Ao longo dos anos, houve muitos pequenos incidentes em que os espanhóis já nos ajudaram e nós a eles. O que estranho mais foi a demora na reposição. Se calhar, no futuro, temos de limitar os valores da importação de Espanha em determinados cenários de produção. Temos capacidade interna para produzir tudo o que consumimos, mas seria mais caro, pois Espanha tem muita produção de base nuclear.
Por que motivo a energia solar não pode substituir a energia elétrica, quando há falhas na rede?
Por razões de segurança, sempre que há um corte de energia na rede elétrica, os inversores dos painéis solares desligam-se. Se produzirmos 500 W em autoconsumo e se consumirmos 1000 W, vamos buscar à rede elétrica 500 W. Se tivermos um sistema com bateria e produzirmos em excesso, podemos armazenar essa energia, ou vender à rede pública. Há inversores com uma saída de backup, que permitem ir buscar uma potência, mesmo que inferior, para alimentar alguns circuitos em casa, como o frigorífico ou a iluminação. Só que, normalmente, as pessoas optam pelos mais baratos, sem uma saída de backup.
Esses inversores podem ser usados em fábricas?
Os inversores, utilizados na indústria, não têm saídas de backup nem existe viabilidade económica, para alimentar grandes cargas nas fábricas. Uma bateria de 10 kWh pode custar quatro a cinco mil euros. Se se gastar 5 kW em duas horas, a energia acaba-se. Por isso, é que há geradores para colmatar essa falha, mas apenas alimentam as cargas prioritárias. Toda a produção pára. Os prejuízos para as indústrias foram de muitos milhões de euros.