Com cada vez mais gente rendida às caminhadas, cresce o número dos que recorrem a aplicações de orientação e partilham experiências e trilhos em meio urbano. Esta espécie de turismo digital, apoiado na tecnologia, apresenta um grande potencial de crescimento, porque confere uma autonomia enorme aos que gostam de descoberta e aventura. E já há uma startup portuguesa que oferece roteiros detalhados.
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Quando os ginásios fecharam e todas as opções para praticar exercício de forma mais organizada se esgotaram, devido à covid-19, muita gente descobriu as caminhadas como opção para se manter ativa. A maioria passou a fazê-lo, perto de casa, em meio urbano, e cedo se percebeu que havia uma nova tendência: partilhar experiências, deixar dicas para outros que queiram descobrir segredos escondidos da cidade que, muitas vezes, passam despercebidos nos passeios tradicionais.
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O hábito de partilhar experiências já vem de algum tempo, sobretudo em países estrangeiros como o Reino Unido, França ou Estados Unidos, mas em Portugal, à exceção de uns audioguias promovidos por câmaras municipais, que se limitam ao respetivo território, a oferta ainda é escassa. Mas, em novembro, surgiu a Walkbox, uma aplicação para telemóvel criada por uma startup da zona de Lisboa, que, em sete meses, já superou os 14 mil downloads.
"Recriamos percursos, onde descrevemos os pontos de interesse com grande detalhe e disponibilizámos fotos das ruas", explica ao JN Bernardo Henriques, CEO da Walkbox.
Percursos do Porto são os mais procurados
Esta aplicação oferece 71 percursos em Portugal, divididos por "natureza" ou "cidades". Neste último caso, destacam-se os 13 roteiros em Lisboa e os 14 no Porto, reunidos em subcategorias, como monumentos, arte urbana, lojas históricas. E, com base na experiência de sete meses da Walkbox, há já uma evidência: os percursos do Porto são os mais procurados.
"A cidade é mais concentrada, tem muita coisa histórica e, sobretudo a parte medieval, cuja descoberta através destes percursos permite ir aprendendo mais sobre a história do Porto", explica Bernardo Henriques.
José Palma, um professor universitário de Setúbal, que já organizou milhares de caminhadas em diversas zonas do país, também não tem dúvidas quanto ao papel das novas tecnologias digitais. "Antes tínhamos de fazer reconhecimento prévio dos percursos, recorríamos às cartas militares. Depois apareceram os primeiros GPS, que já foram uma grande inovação, até que chegaram as aplicações, que são fabulosas", observa.
Para José Palma, a tecnologia digital permite "ganhar uma autonomia incrível". "Quando faço um trilho urbano, vou à procura ao Wikiloc, faço a importação para o meu telemóvel e vou para o terreno", descreve. Estas ferramentas são também "um mundo de partilhas", aponta, destacando que ao utilizá-las, cada um vai "buscar o conhecimento de outros e, no final, replica o seu próprio".