Realizados mais de 83 mil testes do pezinho em 2022. Saldo natural deverá desagravar-se, apesar de negativo.
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Depois de, em 2021, pela primeira vez pelo menos desde 1960, os nascimentos terem ficado abaixo dos 80 mil, no ano passado terão nascido mais de 83 mil bebés no nosso país. Cifra, ainda assim, abaixo das registadas antes da pandemia. Mas, por outro lado, superior às verificadas em 2013 e 2014, quando Portugal ressacava da intervenção da troika. Tendo presente que, no ano passado, os óbitos ficaram perto dos 125 mil, o saldo natural naquele ano deverá fechar negativo na ordem dos -40 mil. A confirmar-se, será o segundo pior desde 1940.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, no ano passado, foram estudados 83.436 recém-nascidos no âmbito do Programa Nacional de Rastreio Neonatal. Foram mais 4219 face a 2021, ano que fechou abaixo da barreira psicológica dos 80 mil, devido a maternidades adiadas pela incerteza gerada pela pandemia. Analisando os dados do teste do pezinho recuando até 2015, à exceção de 2021, todos os anos foram rastreados mais de 85 mil recém-nascidos.
Os dados do INSA, que não correspondem ao número total de nascimentos, estão alinhados com os recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e que têm por base os registos das conservatórias. Até novembro, o INE contava 76 269 nascimentos, mais 4,7% face a período homólogo de 2021. Acréscimo que permitirá desagravar o saldo natural (diferença entre o número de nados-vivos e óbitos) do país, que fechou negativo nos -45 mil em 2021.
Mas que, como explica a demógrafa Maria João Valente Rosa, "não irá ficar muito distante dos -40 mil, o que é um valor extremamente baixo". Restando apurar que impacto terão as migrações no saldo total para sabermos se, tal como em 2021, voltamos a perder população. Afigurando-se o cenário mais plausível: "Se tivermos um saldo migratório na dimensão do de 2021 [+25,6 mil], a população vai continuar a diminuir".
Mulheres em idade fértil
Falar de inversão de tendência com dados apurados para um ano e a seguir a uma pandemia "não faz sentido", sublinha a demógrafa, antecipando que "os números de nascimentos continuem baixos". É que, além dos baixos níveis de fecundidade do país, "são cada vez menos as mulheres a chegar ao período fértil". Tanto mais que, explica, na última década, tendo presente os Censos 2021, contam-se menos 288 mil na faixa dos 15 aos 49 anos. Mulheres que, vinca Maria João Valente Rosa, "já nasceram em período de natalidade baixa, admitindo-se que no futuro este número ainda venha a baixar mais".
Acresce, diz, "que a idade média da mãe ao nascimento do filho poderá continuar a aumentar", sendo que "quanto mais tarde menor a hipótese de transitar para o segundo filho". A "almofada", explica, está na entrada, superior às saídas, no nosso país de mulheres em idade fértil. Em 2021, as mães estrangeiras respondiam já por 13,6% dos nascimentos.
Leitura por distritos
Os dados do teste do pezinho do INSA mostram que apenas nos Açores, Guarda, Faro e Beja foram rastreados menos recém-nascidos no ano passado face a 2021. Em termos absolutos, Lisboa conta mais 1348, Braga mais 574 e Porto mais 519. Comparando com 2020, apenas Coimbra regista um ligeiro acréscimo.
Teste do pezinho
Os dados do INSA reportam aos recém-nascidos estudados no âmbito do Plano de Rastreio Neonatal, não correspondendo, assim, ao número de nascimentos, que é calculado pelo INE com base nos registos das conservatórias.