A magia das cores chegou ao interior do concelho de Famalicão pela mão do projeto Urban Youth, promovido pela Câmara e pelo centro artístico "A Casa ao Lado". Transformou algumas paredes de oito freguesias em murais artísticos, onde figuram lendas, tradições e elementos da vida das populações locais.
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té pode passar despercebido aos mais desatentos, mas, certamente, não aos habitantes de Jesufrei, em Vila Nova de Famalicão. O mesmo se aplica aos residentes de Requião, Bairro, Antas, ou aos que moram ou passam pelo centro da cidade de Famalicão e veem algumas paredes transformadas em murais onde estão retratadas as lendas e tradições da sua terra.
As simples paredes passaram a espelhos de lendas, tradições e referências pela mão de vários jovens, no âmbito do projeto Urban Youth. Talvez o trabalho mais visível seja nas icónicas torres do complexo habitacional das Lameiras, bem no centro da cidade, onde se retratam algumas das figuras maiores do concelho como Camilo Castelo Branco, Bernardino Machado, Júlio Brandão e Alberto Sampaio.
Mas em algumas paredes da urbanização também estão retratos dos elementos que se envolveram na pintura. O Urban Youth é um projeto de "intervenção urbana", que envolve jovens dos 12 aos 35 anos, com o intuito de "reforçar a coesão social e territorial através da arte". Resulta de uma parceria entre o Município de Famalicão e o Centro Artístico - A Casa ao Lado, e já tem previstas novas pinturas para os próximos dois anos, noutras localidades do concelho.
As freguesias, diz Sofia Fernandes, vereadora da Juventude da Câmara de Famalicão, têm mostrado interesse em que o projeto vá para as suas terras. "Muitos projetos da área artística são mais virados para a educação formal, mas também é preciso incentivar e despertar a capacidade artística de uma forma mais informal", justifica.
Conhecer as tradições locais
Depois de uma freguesia mostrar interesse e se definir o local de intervenção, parte-se para a investigação. "Pesquisamos as tradições e as lendas e, a partir daí, definimos o que pintar em cada mural", explica Ricardo Miranda, do centro artístico "A Casa ao Lado".
O trabalho de preparação para a pintura dos murais permite aprender, na maioria dos casos, histórias e tradições que ignoravam. Mariline Rodrigues, de 24 anos, tem participado nos trabalhos e confessa gostar de "pintar paredes". "Deu para conhecer muita coisa que não fazia ideia, por exemplo, a história da Fundação Castro Alves", conta ao JN Urbano. A estudante trabalhou no mural do parque infantil das Camélias, em Bairro, juntamente com outros 14 jovens, e também no do Parque de Sinçães, em Famalicão. O mural de Bairro espelha a ligação da freguesia à cerâmica e ao barro.
"A Fundação Castro Alves foi criado para proporcionar às crianças cultura e educação", explica Ricardo Miranda. Ao longo dos anos, além da música a instituição avançou para a criação de uma escola de cerâmica.
É uma boa forma de passar o tempo, até porque temos oportunidade de aprender várias coisas sobre o nosso concelho
Tal como em Bairro, também o mural de Jesufrei retrata aspetos importantes para a localidade. "Não conseguimos encontrar grande informação sobre a história, por isso pegamos em características da população, revela o responsável da "Casa ao Lado". O santo padroeiro, os escuteiros e a agricultura são alguns dos elementos identificativos daquele povoado que estão plasmados no mural.
No caso de Requião, a lenda da terra, "um caso tipo Romeu e Julieta", nas palavras de Ricardo Miranda, saltou para a parede no centro da freguesia. Dois primos, de famílias ricas que se apaixonaram, mas no final ele morre e ela entra para um convento. "É uma boa forma de passar o tempo, até porque temos oportunidade de aprender várias coisas sobre o nosso concelho", conclui Cláudia Melo, que já participou na pintura de vários murais.
