As "condutas impróprias" de Paulo Rangel. Houve ofensas do ministro a militares?
Discussão em tom exaltado, com insultos pelo meio a militares, marcou a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros na base aérea de Figo Maduro, em 4 de outubro. Paulo Rangel nega ter ofendido militares. Governo desvaloriza, mas oposição quer explicações no Parlamento.
Corpo do artigo
O que esteve na origem da polémica com Paulo Rangel?
O ministro dos Negócios Estrangeiros deslocou-se à base aérea de Figo Maduro, em Lisboa, no dia 4 de outubro, para receber um grupo de 41 repatriados do Líbano. Segundo tem sido noticiado, Paulo Rangel não terá sido autorizado a estar na zona de estacionamento de aeronaves, onde permaneciam jornalistas e elementos da Força Aérea. O ministro não terá gostado de apenas poder circular na zona VIP e insistiu em ter acesso à pista, o que terá sido negado por militares. Foi então que surgiram os alegados insultos, com o coronel Abel Oliveira, comandante da base de Figo Maduro, a ser o principal visado. Esta sexta-feira, Paulo Rangel veio a público garantir que é "absolutamente falso" ter insultado alguém ou exigido estar na área da pista.
O que torna o incidente grave?
Paulo Rangel terá sido abordado pelo Chefe de Estado Maior da Força Aérea, general Cartaxo Alves, e pelo comandante da Base Aérea. No caso deste último, há imagens televisivas em que o governante evidencia descontentamento com o militar e, aparentemente, até se afasta quando o comandante o tentava cumprimentar. Pelo meio terão sido proferidos insultos. "Isto com os militares é sempre a mesma m...", "camelos", "burros" e "eu sou um ministro de Estado, como é que é possível isto estar acontecer?", terá dito Rangel , em tom de voz elevado. O ministro nega categoricamente esta versão. "Não aconteceu, de todo", assegura.
Qual foi a reação dos militares?
No meio militar, o episódio caiu mal. O presidente da República foi informado do descontentamento, como próprio Marcelo Rebelo de Sousa admitiu. Em artigo de opinião no Expresso, o ex- chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas criticou Paulo Rangel. "Ao desrespeitar militares em serviço, o ministro enfraquece a sua própria autoridade e compromete a perceção pública sobre a relação entre os líderes políticos e as Forças Armadas, que deve ser pautada por respeito mútuo e cooperação", escreveu o Almirante António Silva Ribeiro.
Como se defendeu o ministro e o que disse Luís Montenegro?
No Congresso do PSD, em Braga, Paulo Rangel desvalorizou o incidente. Considerou que se trata de "não assunto" e evitou fazer mais comentários. Já esta sexta-feira (25 de outubro), disse ser "absolutamente falso" que tenha exigido acesso a um "lugar não seguro" no aeroporto militar de Figo Maduro e que tenha proferido insultos às chefias militares ali presentes. Esta sexta-feira Rangel foi mais claro: "Estabeleceu-se uma ideia de que teria havido uma exigência, um pedido para ir para um lugar não seguro, o que é absolutamente falso, isso não aconteceu".
O primeiro-ministro saiu em defesa do ministro dos Negócios Estrangeiros. "Acho uma tonteria criar aqui um caso e achar que o Governo porá em causa duas coisas: primeiro, a credibilidade e confiança no ministro Paulo Rangel no governo e, em segundo lugar, - à boleia de incorreções em notícias - fazer eclodir em Portugal, 42 anos depois da revisão constitucional de 1982, aquilo que é a repartição de responsabilidades entre o poder político e poder militar", disse Luís Montenegro, na quarta-feira. E, por conhecer o caso "com minúcia", sentenciou com "total confiança": "Se há aqui alguém que quer abanar o Governo e abanar a presença do ministro Paulo Rangel no Governo, vá treinando porque tem muito que fazer."
Os partidos da Oposição reagiram? Como Marcelo viu o caso?
O PS e o Chega já requereram a presença do ministro Paulo Rangel na Assembleia da República para dar explicações sobre o caso e as "alegadas condutas impróprias". Pedro Nuno Santos, líder do PS, disse que se trata de um "caso de Estado" e considerou que "tem de ser clarificado o quanto antes". Já o presidente da República, comandante supremo das Forças Armadas, desdramatizou a situação, garantindo que, do que lhe foi transmitido, não sentiu "melindre" da parte dos militares. "A mim o que me chegou foram versões muito coincidentes que minimizaram o problema", disse Marcelo Rebelo de Sousa, na quinta-feira.

