Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia da Universidade de Coimbra, e Adélio Abreu, presbítero da diocese do Porto e professor da Faculdade de Teologia da UC, falam sobre as expectativas que têm apra a visita do Papa.
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1.Qual a mensagem mais importante que o Papa pode deixar nesta JMJ?
Anselmo Borges:
Temos consciência de que, num Mundo global, somos interdependentes, para o bem e para o mal. Hoje, por causa do armamento nuclear, das alterações climáticas e das novas tecnologias, podemos pôr fim à Humanidade, num suicídio coletivo. Na JMJ, estarão jovens de todos os continentes e o Papa apelará à sua responsabilidade histórica pela sobrevivência do planeta e da Humanidade.
Adélio Abreu:
Mais do que uma mensagem sistematizada, o Papa colherá porventura o significado antropológico do encontro, atendendo ao seu tema: “Maria levantou-se e partiu apressadamente”. Ele evoca a decisão de Maria, grávida de Jesus, partir ao encontro de Isabel, também à espera do nascimento de João. Maria emerge como ícone de uma alegria fecunda pela presença de Jesus e de uma capacidade de partir em serviço ao outro. Francisco refere-se muitas vezes à cultura do encontro e à urgência de sair. Acredito que aproveite para apelar ao encontro dos jovens com Cristo vivo, capaz de dar sentido às suas interrogações e experiências de generosidade e de serviço, bem como de os levar a refazer caminhos.
2. Que posição gostaria que o Papa assumisse sobre os abusos sexuais cometidos no seio da Igreja portuguesa?
Anselmo Borges:
Os abusos sexuais e a Inquisição são na História a maior tragédia da Igreja. O Papa receberá algumas vítimas, pedirá perdão e dirá o que não se cansa de repetir: “tolerância zero”, “nunca mais”. É um crime atroz. Há o dever de denunciar, colaborar com a Justiça, punir. Louvará a criação pelos bispos do Grupo Vita, responsável pelo encaminhamento das denúncias ao Ministério Público e acompanhamento das vítimas.
Adélio Abreu:
Mesmo não sendo o centro da Jornada, o Papa não deixará de expressar solidariedade para com as vítimas, pedir perdão pelo ocorrido e significar o compromisso eclesial na prevenção e no cuidado.
3. O que a Igreja deve fazer para cativar os jovens?
Anselmo Borges:
A Igreja não pode continuar clerical e com a imagem de um Deus castigador. Exige-se a mudança na linguagem: que significa hoje dizer no Credo, referindo-se a Jesus: “gerado, não criado, consubstancial ao Pai”? e crer na “ressurreição da carne”? É preciso renovar a moral sexual, o ritual e as homilias.
Adélio Abreu:
A Igreja precisa de encontrar formas pertinentes de proporcionar aos jovens o encontro com Jesus em contexto comunitário, um encontro que densifique para eles a experiência do vivido, confirmando, animando e convertendo os seus percursos, de modo a descobrirem o vínculo entre a fé e a vida.