As preocupações energéticas estão na ordem do dia. Principalmente, numa época como a do Natal, em que é tradição as cidades e as casas encherem-se de luzinhas a piscar. Mas, aparentemente, apenas 27% dos portugueses preveem poupar nas iluminações natalícias. Os dados foram revelados recentemente pela Klarna - um serviço de banca de retalho, pagamentos e compras, a nível mundial -, que inquiriu 17 mil consumidores, em 17 países, entre os quais Portugal.
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Segundo o estudo da empresa sueca de tecnologia financeira, "87% dos inquiridos nacionais vão decorar a casa para este Natal" e, desses, "apenas 27% vão ter em atenção a redução do consumo energético com os enfeites".
Ainda segundo o inquérito feito pela Klarna, mais de metade (54%) dos portugueses não pretendia gastar dinheiro em novas decorações. Por seu turno, 19% dos que iam comprar novos enfeites previam gastar até 25 euros com os mesmos. E 16% esperavam gastar até 50 euros.
Enfeitar a casa a preceito nesta quadra festiva continua a ser uma propriedade para muitos portugueses. E, apesar do período de crise atual, 45% por inquiridos diziam-se com vontade de "decorar com a mesma dedicação de anos anteriores". E entre estes particulares há quem não olhe a gastos para fazer a sua habitação brilhar. O JN visitou três casas que podiam ser do Pai Natal.
1 ílhavo
Casa das Luzinhas tem "mão" dos States
Não é à toa que Herlander Loureiro, de 65 anos, enfeita a sua moradia, situada no número 59 da Rua de São Nicolau, na Gafanha da Nazaré, Ílhavo. Cada série de luzes tem o seu lugar, previamente estudado. Até porque Herlander gosta "que fique uma coisa com um determinado estilo, que ligue bem com a casa". A iluminação vem dos Estados Unidos, de onde, todos os anos, as suas cunhadas têm gosto em enviar-lhe novos ornamentos. A Herlander calha montar tudo e, no fim, pagar a conta de luz, que costuma rondar os 300 euros. Este ano, não sabe de quanto será a fatura. Mas, mesmo assim, não abdicou daquele que é um dos seus "maiores prazeres".
De 10 de dezembro a 1 de janeiro, a moradia de Herlander e Piedade (na foto) é a "Casa das Luzinhas". O nome, este ano, até foi desenhado com séries de luzes, no muro lateral da casa. "Gosto sempre de acrescentar uma ou outra novidade", explica o antigo funcionário da Renault Cacia, já reformado.
É Herlander quem monta as luzes todas, com minúcia. São 21 mil. A preparação dura-lhe três semanas de trabalho diário. Até porque "se alguém quiser ajudar, só atrapalha". Gosta de trabalhar com método e foco. É assim desde que se aventurou a iluminar a casa no Natal, há oito anos. "Há quem gaste dinheiro a viajar. Eu tenho este gosto, é um hobby. Por isso, não me importo de gastar dinheiro nisto", explica Herlander.
Mal anoitece, por volta das 18 horas, as luzes acendem-se. E ficam ligadas até cerca das 22. "Isto quando não está imensa gente ainda à porta de casa. Aí, não tenho coragem de desligar logo". É que, confessa Herlander, no final, "o que mais gosto dá é ver a felicidade das crianças a olhar para a casa".
2 viseu
Romaria para ver 70 mil a piscar
Por estes dias há uma autêntica romaria ao n.º 3 da Rua de São Pedro, em Loureiro de Silgueiros, Viseu, para ver a casa da família Figueiredo. Há vários anos que a habitação se transforma, nesta quadra, num autêntico postal de Natal.
A moradia é enfeitada com cerca de 70 mil lâmpadas, que dão um novo colorido à casa e à rua. Há luzes de cor branca e amarela nas paredes, varandas, junto ao telhado e em corrimões. O jardim também está todo iluminado.
A decoração começou a ser instalada há três meses pelos irmãos Joana e Rafael Figueiredo (na foto), com a ajuda do pai, mas foi com a sua mãe que ficaram com o bichinho de "iluminar" a sua habitação. Joana conta que, desde que se lembra de ser gente, que a sua casa tem luzes de Natal cá fora. De ano para a ano, a iluminação foi crescendo, ganhando maior escala a partir de 2017. "Temos cerca de 70 mil lâmpadas que formam estrelas, arcos e fitas. Para além disso iluminamos as árvores e os lagos. A casa está toda iluminada", refere. As luzes estão ligadas entre as 18 horas e meia-noite. Só nos dias de Natal, passagem de ano e de Reis é que estão acesas toda a noite. Os vizinhos já se habituaram a esta "maluqueira saudável", que atrai a curiosidade das gentes de Viseu e arredores, mas também de pessoas de Coimbra e Porto.
Apesar do aumento dos custos com a energia, a família quis manter a tradição e não deixou de iluminar a casa. A fatura da eletricidade sobe em média uns 60 euros nesta altura. Joana fala num custo "irrisório". "Para nós, é uma alegria festejar o Natal e não olhamos a esse custo", refere.
3 paredes
Presépio do tamanho de um apartamento
Quando Domingos Teles montou um presépio à porta de casa pela primeira vez, em 1986, era um pequeno recanto, que as pessoas espreitavam à vinda da missa. Entretanto cresceu e ocupa agora toda a garagem e terraço da casa da família, em Beire, Paredes, num total de 120 metros quadrados. Desde que faleceu, em 2015, o filho, José Teles, de 45 anos, e a mãe, Matilde Sousa, de 82 (juntos na foto), não quiseram deixar o presépio de São Luís de Beire desaparecer e mantiveram-no a funcionar. Todos os anos, garantem, é visitado por milhares de pessoas, sobretudo entre o Natal e os Reis. E nem a pandemia o travou, já que, ainda que não abrissem as portas durante dois anos, fizeram um presépio em versão reduzida junto ao portão. Este ano regressa ao tamanho "normal".
Quem entra neste presépio depara-se com milhares de peças e luzes. "São 1900 lâmpadas, 961 santos, 780 fitas e bolas, 600 ovelhas e 340 peças de artesanato", entre outros, elenca José Teles. Existem vários quadros a retratar cenas bíblicas e há ainda espaço para mostrar hábitos e costumes do passado. Há fontes, moinhos e carrosséis a funcionar. Várias réplicas de igrejas e capelas do concelho e da região construídas em pedra e madeira. Muitas das peças de artesanato foram feitas por ele e pelo pai. Outras foram compradas ao longo dos anos. "O meu pai adorava isto. Poupava noutras coisas para investir aqui", conta José.
De ano para ano, 90% das peças ficam no lugar, sendo guardadas apenas as mais valiosas. Mas desde setembro que José Teles anda em torno do presépio, a limpar tudo e a ver o que funciona e o que precisa de ser substituído.
Este ano, refere, houve a preocupação de começar a mudar as iluminações para LED. "A fatura da luz é elevada. Costuma ultrapassar os 400 euros", adianta. "Espero que com esta troca a fatura já seja menor ou que, pelo menos, se consiga que não aumente", acrescenta. A entrada neste presépio é gratuita, mas quem quiser ajudar pode deixar donativos. Também há empresas amigas que apoiam, "para não deixar acabar esta tradição".