Naquela que foi a sétima mensagem de Natal desde que exerce as funções de primeiro-ministro, António Costa fez um rasgado elogio à forma como os profissionais de saúde têm estado empenhados no combate à pandemia, deixando avisos em relação à evolução da doença nos próximos meses. Os partidos lamentaram a ausência de temas e alguns justificam-na com o período pré-eleitoral.
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PSD: pareceu que só a pandemia corre mal
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"Ao incidir a mensagem apenas e só na pandemia e numa análise geral sobre os efeitos desta, o senhor primeiro-ministro permite que passe a impressão que o que esteja a correr mal no nosso país se deve apenas e só aos efeitos diretos ou indiretos da pandemia e, todos sabemos, não ser verdade", afirmou o vice-presidente do PSD André Coelho Lima, numa declaração na sede do PSD do Porto.
Ao fazer uma análise sobre o momento atual que o país vive, o governante deu a ideia de que "os males da economia, da saúde e da educação" têm todos que ver com a pandemia, sublinhou o social-democrata. "Passou a ideia de que a pandemia é o mal principal no nosso país, mas isso não é verdade", vincou.
André Coelho Lima entendeu que o agradecimento que Costa fez aos profissionais de saúde devia ter sido "em dobro" porque muitas das "difíceis condições" que eles estão a viver nos hospitais e centros de saúde e muitas das demissões em bloco não são consequência da covid-19, mas sim das condições de trabalho em que se encontram.
"O senhor primeiro-ministro é quem tem a função, a obrigação e o dever por força das funções que exerce de também conduzir o país e, digamos que, faltou uma mensagem no sentido do que fazer para além daquilo que analisou", reforçou, salientando ter sido uma mensagem "contida e abstrata", nomeadamente devido ao período pré-eleitoral.
BE esperava mais
O Bloco de Esquerda lamentou que a mensagem de Natal do primeiro-ministro tenha sido um "discurso monotemático" e não tenha tido "uma palavra" sobre a falta de professores ou o combate ao crime económico, apontando que se esperava "mais" de "um discurso que em princípio é marcante sobre o momento" que o país atravessa.
O dirigente do BE criticou também que "nem uma ideia para uma economia justa, capaz de criar mais riqueza e de a distribuir melhor para melhorar a vida de todas e de todos" e que "num ano marcado, por mais uma vez, fraudes milionárias", o primeiro-ministro não tenha dirigido "nem uma única palavra sobre combate ao crime económico".
Também ao nível da covid-19, "faltou uma palavra para justificar a falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde ou do reforço de equipas e serviços de rastreio, tão essenciais neste momento pandémico", considerou Pedro Filipe Soares.
PCP queria "resposta global aos problemas"
O PCP defendeu, este domingo, que o primeiro-ministro devia, na sua mensagem de Natal, ter apontado "uma perspetiva de resposta global aos problemas" dos portugueses e comprometer-se com o reforço dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde.
"Era preciso que a mensagem de Natal do primeiro-ministro apontasse uma perspetiva de resposta global aos problemas do país e do povo português, mas não foi isso que aconteceu", afirmou o líder parlamentar comunista num vídeo divulgado hoje à imprensa.
Nesta reação, no dia seguinte à transmissão da mensagem de Natal do primeiro-ministro, João Oliveira disse que queria ter ouvido António Costa dar respostas para a "situação de milhões de portugueses que vão atravessar esta quadra festiva atravessando problemas de desemprego, de baixos salários ou baixas pensões, de horários de trabalho desregulados ou precariedade laboral, de falta de acesso à habitação ou risco de a perder, ou de falta de creche para os seus filhos".
"O primeiro-ministro entendeu não dar essa resposta e, mesmo em relação às questões da epidemia, ficou-se pelo elogio ao Serviço Nacional de Saúde e aos seus profissionais", lamentou.
PAN defende medidas para valorizar profissionais de saúde
O PAN considera que os profissionais de saúde, elogiados pelo primeiro-ministro na sua mensagem de Natal, só serão reconhecidos com uma efetiva valorização das suas carreiras, das condições em que trabalham e um maior investimento no SNS.
Teria sido importante "falar daquela que devia ser uma preocupação e um compromisso efetivo no combate à pobreza, em particular para chegarmos a quem perdeu os seus rendimentos, a quem está na condição de sem abrigo, mas também para a recuperação de salários e o aumento progressivo do que é o ordenado médio das nossas famílias", disse a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, num vídeo divulgado às redações.
Outra ausência notada no discurso foi a crise climática. "O problema ambiental não desapareceu como pano de fundo e, também por isso, este deve ser um Natal mais sustentável", defendeu.
CDS: Costa resumiu Portugal "à covid e ao medo da doença"
Numa reação em vídeo, a cabeça de lista do CDS pelo Porto nas eleições legislativas de 30 de janeiro, Filipa Correia Pinto, considerou que a mensagem de Natal do chefe do Governo "tem um único objetivo, confinar e resumir Portugal e a nossa vida coletiva à covid e ao medo da doença".
Apontando que "há mais vida para além da pandemia" a candidata salientou que "o CDS não aceita o confinamento político em que António Costa quer encerrar Portugal até às próprias eleições". E criticou o facto de o primeiro-ministro continuar "a dizer que vai ficar tudo bem e a mostrar que acredita no mundo de faz de conta que construiu para distrair os portugueses".
"Faz de conta que as famílias e as empresas não vivem asfixiadas pelos impostos, faz de conta que trabalhar é suficiente para não se ser pobre, faz de conta que não temos os combustíveis mais altos da Europa, faz de conta que a pandemia se resolve com incompreensíveis restrições à nossa liberdade individual, faz de conta que os milhões de Bruxelas capturados pelo Estado e pelo setor público vão resolver o atraso da nossa economia. E, sobretudo, faz de conta que depois das próximas eleições vai poder continuar a governar ou com uns, ou com outros e continuar a ser primeiro-ministro", concluiu.
De olhos postos nas eleições legislativas de janeiro, defendeu que "só o voto no CDS garante o fim do socialismo e o fim da governação à esquerda", apontando que "com o CDS forte, este pode bem ser o último Natal do mundo do faz de conta".
IL acusa Costa de não perder uma oportunidade de "fazer propaganda"
Numa reação em vídeo, o presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, afirmou que se tratou de "uma mensagem muito triste, sem esperança, sem uma ideia de futuro". "Um pouco como este Governo já nos habituou", disse.
Apontando que "próprio primeiro-ministro, no final, reconhece que esta época pré-eleitoral não é uma boa altura para fazer mensagens de Natal, aproveitando o facto de estar a ocupar o cargo de primeiro-ministro", o líder da Iniciativa Liberal assinalou que "o Presidente da República, no ano passado, cancelou a sua mensagem de Ano Novo exatamente porque estava próximo das presidenciais".
"Mas já se sabe, António Costa não perde uma oportunidade de fazer propaganda e, neste caso, uma propaganda, repito, muito triste e sem qualquer ideia de futuro", criticou.
O deputado afirmou também que "esta mensagem do primeiro-ministro não tem muito que comentar porque não foi bem mensagem de Natal, foi um comentário à gestão da pandemia".
Chega: Costa mostrou "incapacidade" de se responsabilizar
"Estas duas características marcam a mensagem de Natal de António Costa: a incapacidade de se auto responsabilizar e perceber que os erros que o seu Governo cometeu estão a gerar aos portugueses os problemas que hoje estamos a viver; e a esquizofrenia política de não perceber que tudo o que está em seu redor, que todos os grandes dramas que estamos a viver hoje, têm também o seu cunho e a sua mão enquanto primeiro-ministro", afirmou André Ventura.
Num vídeo enviado às redações, o líder do Chega considerou também que "o Governo de António Costa foi responsável pelo desastre" dos setores que elogiou e "vem agora saudá-los como se o seu esforço tivesse sido também acompanhado pelo esforço do Governo".
O presidente e deputado único do Chega referiu também que a mensagem hoje transmitida "segue o padrão de todas as outras que tem transmitido ao país: ainda falta trabalho por fazer, ainda há muitos problemas, ainda há muitas batalhas a travar". "Mas, diz António Costa, ainda é ele o melhor para o fazer. Nada de novo, nenhum sentimento de esperança", criticou.
Apontando que registou "o mesmo tom, habitual, de sempre, de derrota e de fatalismo do senhor primeiro-ministro", André Ventura disse que foi "a mensagem permanente de que o combate contra a pandemia não está travado, que gostava de ter feito mais, mas não foi possível, de que ainda não vamos ter o tempo que esperávamos nem o Natal que esperávamos".
"É aquele discurso do género a culpa não é minha, a culpa é das circunstâncias e dos outros", apontou também.