A Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS) prepara-se para anunciar, esta sexta-feira, o adoçante artificial aspartame como “possivelmente cancerígeno”. Mas o que é o aspartame? E o que vai mudar com este anúncio?
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1. O que é o aspartame?
É um adoçante artificial com capacidade para adoçar até 200 vezes mais que o açúcar comum. Foi descoberto em 1965 pelo químico americano James Schlatter. É utilizado para adoçar alimentos e bebidas, substituindo o açúcar. Segundo José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas, trata-se de uma “molécula química, sintética, que tem um poder adoçante que é muito superior ao do açúcar que usamos habitualmente”.
2. Em que alimentos posso encontrar este adoçante?
O aspartame é um adoçante que tem sensivelmente 50 anos de utilização com um pico acentuado nas últimas décadas. “É muito utilizada em alimentos que queremos que sejam doces, que tenham gosto doce, mas que não estejam adoçados com açúcar ou, eventualmente, que tenham uma menor proporção de açúcar na sua composição”, refere José Camolas.
Pode ser encontrado em milhares de produtos: refrigerantes sem açúcar como a Coca-Cola, bolos, gelados, pastilhas elásticas, em algumas bebidas da Snapple, em multivitamínicos mastigáveis ou, até mesmo, em pastas de dentes e em medicamentos.
É muito utilizado pelas pessoas para adoçar o café. Ou então por quem anseia perder peso, uma vez que possui poucas calorias e adiciona um sabor adocicado. Qualquer pessoa pode comprar este adoçante em supermercados ou lojas de produtos naturais.
As entidades reguladoras autorizam e defendem a utilização do aspartame a nível mundial há muitas décadas. A indústria alimentar acredita que a utilização destes adoçantes artificiais ajuda a reduzir a quantidade de açúcar utilizada pelas pessoas.
3. E pode ser cancerígeno?
Sim. Segundo Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC) se for consumido por longos períodos pode aumentar o risco de aparecimento de alguns cancros, como no fígado ou no sangue, de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Para José Camolas, a preocupação maior está relacionada "com o número de alimentos em que ele está presente e o facto de haver um acumular do consumo que faça ultrapassar a dose segura diária” ficando mais prováveis “os potenciais efeitos negativos que não são só para o cancro”.
Mas atenção: ainda não existem provas diretas de que causa cancro em humanos. No entanto, entre os 1300 estudos avaliados, constatou-se que as pessoas que consumiam este tipo de adoçantes artificiais tinham mais risco de cancro em relação a outras pessoas que não consumiam essa substância.
Um dos exemplos foi um estudo observacional realizado em França, no ano passado, em 100 mil adultos. As pessoas que consumiam grandes quantidades de adoçantes artificiais tinham um risco de cancro superior.
A OMS esclareceu também, em maio, que a utilização destes adoçantes artificiais, como o aspartame, a sacarina, o acesulfame K ou a stevia, “não confere qualquer benefício a longo prazo na redução da gordura corporal em adultos ou crianças”.
4. Existe uma quantidade recomendada?
A Food and Drug Administration (dos Estados Unidos) diz que a dose diária recomendável de aspartame deve situar-se em 50 miligramas por quilograma de peso corporal. Um valor ligeiramente superior ao sugerido pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, que recomenda apenas 40 miligramas por quilo de peso e por dia. O nutricionista José Camolas, ouvido pelo JN, refere que "estas doses continuam a ser uma dose de referência segura para as populações". A presença de aspartame é visível nos rótulos dos produtos através do nome ou da indicação E 951.
5. Devo ter cuidado com o uso de aspartame?
Sim. Se é consumidor assíduo de alguns alimentos que tenham aspartame deve reduzir o seu consumo. A OMS aconselhou a não utilização destes adoçantes artificiais para o controlo do peso.
José Camolas confirma que não há motivo para alarmismos, mas alerta para a moderação na utilização destas substâncias. “Não é necessário nenhum tipo de pânico, nem sequer uma mudança daquilo que são a utilização destes produtos na indústria ou os consumos habituais das pessoas”.
“O conselho que posso deixar a quem é consumidor destes adoçantes artificiais é que deve ter alguma atenção e moderar o consumo. Em vez de usar três comprimidos de adoçante no café, porque não usar só um”, aconselha.