Um estudo científico sobre a associação da aspirina à imunoterapia no combate ao cancro, liderada pelo investigador português Caetano Reis e Sousa, venceu o Prémio Bial de Biomedicina. Os resultados mostram um aumento notável de eficácia da combinação da aspirina com a imunoterapia, resultando na erradicação dos tumores nos modelos pré-clínicos em estudo.
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Partindo do ponto em que apenas uma minoria dos doentes tem respostas completas e duradouras à imunoterapia, os investigadores analisaram as causas de insucesso terapêutico e identificaram uma possível explicação para o mecanismo de "fuga" tumoral ao sistema imunitário e consequente resistência à imunoterapia
A equipa de cientistas, liderada por Caetano Reis e Sousa, publicou um artigo na revisra Cell, em 2015, onde expôs ainda a capacidade dos inibidores de ciclooxigenase, utilizados nas doenças inflamatórias, caso da aspirina, de aumentar a eficácia da imunoterapia no tratamento de vários cancros. Para chegar a estas conclusões, os investigadores tiveram de seguir um raciocínio de polícia, onde através de pistas iam eliminando suspeitos, até encontrar o verdadeiro responsável.
"Demos conta de que havia uma substância qualquer que estava a inibir as células dendríticas quando nós fazíamos esse tipo de experiência. Aí houve um trabalho de detetive, tivemos de descobrir o tipo", afirmou Caetano Sousa à agência Lusa.
Finalizaram este estudo com a aspirina, visto que esta impede a produção da prostaglandina com um fármaco em vez da modificação genética e assim testando a possibilidade de uma futura terapia clínica. No entanto Caetano Reis e Sousa ressalva que antes já tinham sido dados como provados os benefícios da aspirina no que toca a terapias para cancro.
O prémio visa reconhecer o que de mais notável e relevante tem sido descoberto na área biomédica e é mais visto como um reconhecimento de mérito do que um financiamento da investigação.
O prémio, no valor de 300 mil euros, será entregue esta terça-feira pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. A cerimónia decorrerá no Grande Auditório João Lobo Antunes, no Edifício Egas Moniz, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no complexo do Hospital de Santa Maria. O estudo científico foi desenvolvido no Instituto Francis Crick, em Londres, por um a equipa de 12 investigadores, 3 deles portugueses
Maria do Carmo Fonseca, vice-presidente do júri, salienta que "a razão principal que levou à atribuição do prémio assenta no facto de esta descoberta, feita em laboratório, poder salvar a vida de doentes com cancro". A investigadora sublinha ainda que, atualmente, a nível mundial, já estão a ser feitos ensaios clínicos em que a combinação de fármacos anti-inflamatórios como a aspirina com a imunoterapia está a ser testada em diversos tipos de cancro como da mama e do cólon.
O imunologista português foi co-vencedor em 2017 do prémio Louis-Jeantet de Medicina, no valor de 700 mil francos suíços (cerca de 654 mil euros), e no ano passado foi eleito membro da Royal Society, tornando-se no primeiro português em 200 anos a entrar como 'fellow' para a academia de ciências britânica, a mais antiga do mundo.