Foi há 58 anos: na noite de 31 de dezembro de 1961 para 1 de janeiro de 1962, duas dezenas de homens, entre militares e civis, empreenderam uma tentativa de golpe de Estado, visando o derrube do regime fascista de Oliveira Salazar. Ficou conhecido como a "Intentona de Beja" e dois civis morreram.
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Humberto Delgado foi sempre apontado como o homem que esteve por detrás do golpe, mas sem nunca ter aparecido. O "General Sem Medo", que estava na clandestinidade, veio para Lisboa e, depois, para Vila de Frades (Vidigueira) onde acompanhou o desenrolar da revolta. Fracassado o golpe, Delgado regressou ao exílio.
Comandados pelo capitão Varela Gomes, o assalto ao quartel do Regimento de Infantaria 3 (RI3), em Beja, contou com a forte presença do major Francisco Vasconcelos Pestana, filho do antigo ministro da I República, Pestana Júnior, do capitão Pedro Marques, do tenente Brissos de Carvalho, primeiro Governador Civil de Beja após o 25 de abril, bem como dos civis Manuel Serra e Fernando Piteira Santos.
No quartel estaria metade da guarnição, cerca de 300 homens, a maior parte nas casernas quando se ouviram as rajadas de metralhadora. "Ainda não era meia-noite, tinha-me acabado de deitar quando ouvi os tiros. A noite era de temporal. Apesar da chuva e do vento, ouviram-se os disparos", recordou Benedito (nome fictício), primeiro-cabo quarteleiro na companhia de Ordem Pública do RI3, que tinha entrado de serviço às 23 horas daquele dia 31 de dezembro.
Dez dias fechados no quartel
Os revoltosos dirigem-se ao comando, onde se encontra o major Calapez, segundo-comandante, para tomarem a unidade. O grupo dos revoltosos abre fogo e atingem o major Calapez no tórax. Este ripostou e, de imediato, Varela Gomes fica gravemente ferido no baço, sendo levado para o hospital de Beja. Durante a refrega, foi morto o tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, então subsecretário de Estado do Exercito.
"Corri ao gabinete do oficial de dia para receber ordens e dei de caras com mais de uma dúzia de civis", lembrou Benedito. Dois deles morreram. "Um estava no edifício do comando e o outro foi apanhado junto à enfermaria. Foram levados, não se sabe por quem, nem para onde", recorda o primeiro cabo.
Soares lamentou que tenha falhado
Benedito e os outros militares estiveram de prevenção, fechados no quartel, uma dezena de dias. O primeiro-cabo recorda que foi "ouvido num auto", por um brigadeiro e meia dúzia de oficiais para "saber se havia cúmplices dentro do quartel". Nunca se soube o resultado.
O capitão Varela Gomes foi expulso do Exército, julgado e preso pela PIDE, enquanto o major Calapez foi considerado "herói" pelo regime de Salazar. Em 1987, por ocasião de uma Presidência Aberta, Mário Soares, então presidente da República, na chegada a Beja disse: "se não fosse um tal major Calapez, o 25 de Abril teria acontecido 15 anos antes".