Associação de oficiais critica "saudosismo autoritário" de Gouveia e Melo e ministra
A Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) acusa a ministra da Defesa, Helena Carreiras, e o Chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, de "total indiferença" perante os problemas do setor. A AOFA admite defender os direitos dos militares, "se necessário, com manifestações públicas".
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Depois dos sargentos e dos praças, também os oficiais se insurgiram contra as declarações recentes da ministra - que disse que um eventual protesto de militares "não é aceitável" - e de Gouveia e Melo - que descreveu esse cenário como "inadmissível". Em comunicado, divulgado na terça-feira, a AOFA criticou a "falência dos canais institucionais".
"As declarações de saudosismo autoritário, de apelo ao silêncio ou de renúncia forçada a justas reivindicações, numa total indiferença perante a urgência da realidade, transformam mensagens 'redondas' em palavras incendiárias e intimidatórias, que apenas contribuem para o agravamento de situações já de si muito sensíveis", lê-se no comunicado da associação de oficiais, liderada pelo tenente-coronel António Mota.
Nos últimos dias, os militares têm levantado a hipótese de se manifestarem publicamente para exigirem o mesmo tratamento dado à PSP e à GNR, caso estes vejam reforçado o seu subsídio de risco. A AOFA avisa que as Forças Armadas "nunca deixaram nem deixarão de tentar encontrar formas de expressar as suas preocupações e justas reivindicações, se necessário com manifestações públicas", lembrando que estas "estão previstas na lei".
"Incompetência" do Governo e "ineficiência" das chefias
A associação desafia o Governo a ser "coerente, ter vergonha e agir, resolvendo os problemas que já não são possíveis de ignorar". Considera que a falta de respostas parece revelar "incompetência" do poder político e "ineficiência" das chefias militares, levantando a hipótese de estas últimas estarem "manietadas por aqueles que as nomearam", pelo facto de aceitarem trabalhar "em condições que lesam a Instituição Militar".
"A história é testemunha de diversas manifestações de militares portugueses, sem quebra de coesão ou disciplina nas Forças Armadas", refere a AOFA. "Em verdade, as únicas ameaças à hierarquia e coesão resultam da persistente falta de vontade e capacidade em resolver os graves problemas que afetam um dos pilares da soberania nacional", alerta.
Nos últimos dias, a Associação Nacional de Sargentos (ANS) definiu as reações de Helena Carreiras e de Gouveia e Melo como "pouco felizes". A Associação de Praças reivindicou o reforço de vários suplementos remuneratórios e um "real aumento dos salários", reiterando também a possibilidade de os militares se manifestarem "dentro da legalidade".