Diagnósticos no IPO do Porto subiram 197% em 20 anos. É o cancro de pele mais agressivo e a prevenção tem de começar na infância, defendem médicos.
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Nos últimos 20 anos, o número de novos casos de melanoma diagnosticados no IPO do Porto triplicou. A versão mais agressiva e mortal do cancro de pele tem uma incidência “muito alta” em todo o país e está a crescer 6% ao ano. Os médicos deixam um alerta: é urgente criar novos hábitos de exposição solar nas crianças para que esses comportamentos se perpetuem ao longo da vida.
Este ano, no Da Europeu do Melanoma, que hoje se assinala, o alvo são precisamente os mais novos. “As nossas crianças têm um problema de pele” é o mote da campanha internacional que pretende alertar para o impacto que as queimaduras solares com bolhas na infância podem ter 40 a 50 anos mais tarde.
Entre outros fatores de risco não controláveis (genética, cor da pele, história familiar), o melanoma maligno está associado aos chamados escaldões do sol. Por isso, evitar a exposição em horas críticas é a primeira regra. Usar fator de proteção, óculos escuros e chapéu - e não apenas na praia - são outras regras essenciais.
A exposição cumulativa, ao longo dos anos, também é nociva, mas está mais associada a outros cancros de pele como os carcinomas basocelular e espinocelular, explica Matilde Ribeiro, coordenadora da Clínica da Pelo do IPO do Porto.
Aquele hospital trata cerca de 70% dos casos de melanoma maligno da região Norte, adianta a especialista, sublinhando que “nos últimos 20 anos o número de casos mais do que duplicou”. Os números absolutos, registados nos registos oncológicos anuais do IPO do Porto, traduzem uma subida ainda mais acentuada. No ano passado, entraram 367 novos casos de melanoma, uma média de um por dia, e um aumento de 197% face a 2004 (125 casos).
Doença vai duplicar
A tendência é para piorar. “A incidência do melanoma está a aumentar 4% a 6% ao ano e daqui a dez, quinze anos haverá uma duplicação desta doença”, perspetiva Hugo Nunes, médico oncologista do IPO de Lisboa.
Com uma incidência a nível global de 10 casos por 100 mil habitantes – taxa que Portugal acompanha – o melanoma faz soar alarmes porque, embora 60% a 70% se resolvam com cirurgia, há cerca de “30% de casos associados a uma mortalidade muito elevada”, nota Hugo Nunes.
A boa notícia é que na última década, os avanços terapêuticos permitiram aumentar a sobrevivência dos doentes. Ainda assim, é proibido baixar os braços na prevenção. “Estamos muito melhores, mas ainda estamos longe da cura”, ressalva Matilde Ribeiro.
Mais sobrevida mas doença ainda mata
A prevenção e o diagnóstico precoce são as principais armas para combater o melanoma, mas “há duas classes de tratamento que, nos últimos anos, ajudaram a mudar o curso natural da doença”, explica Hugo Nunes, médico oncologista do IPO de Lisboa.
As terapêuticas alvo, que consistem em “desligar” uma proteína alterada que está associada ao desenvolvimento do tumor (cerca de metade dos melanomas têm esta alteração); e a imunoterapia dirigida aos linfócitos T para evitar que estes guerreiros do sistema imunitário morram e possam combater as células tumorais.
“Com estas duas classes, os doentes vivem mais e melhor, mas ainda morrem da doença”, ressalva o oncologista. Sem estes tratamentos, diz, 50% dos doentes com tumores de alto risco (estadio 3), estavam vivos ao fim de cinco anos. Com os tratamentos, a taxa passou para 75%.
Números
1266 casos de melanoma em 2021, o que representa uma taxa de incidência de 12,2 por 100 mil habitantes. Os dados são do registo oncológico nacional (RON) 2021, publicado desde 2019.
4189 casos de cancro de pele (inclui melanoma e outros) em 2021. Segundo o RON, a maior incidência verificou-se nos distritos do Porto, Faro e Bragança.