Líder sem linhas vermelhas, eurodeputado recusa Bloco Central. Há vários diagnósticos em que convergem.
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A avaliação à forma como o PSD fez oposição ao Governo é uma das maiores diferenças entre as moções estratégicas entregues ontem pelos dois candidatos a líder do partido que vão a votos no sábado. Rui Rio diz ter obtido resultados "incontornáveis" nas eleições regionais e autárquicas, ao passo que Paulo Rangel quer um PSD menos "débil" no combate ao PS. Em quase tudo o resto - da Justiça à corrupção, passando pela economia -, ambos identificam desafios semelhantes. Nos cenários pós-legislativas, Rio é mais claro quanto a uma aproximação aos socialistas, mas Rangel também não a afasta.
Desempenho do PSD
Rio satisfeito, Rangel crítico
A moção de Rangel deixa críticas implícitas a Rio quando diz que o PSD não pode "segregar internamente e abandonar a diferenciação" face ao PS. No documento, argumenta-se que os novos partidos de Direita surgiram porque o PSD "não conseguiu mobilizar os portugueses". Já o líder atual acredita que a subida social-democrata nas autárquicas fez, pela primeira vez desde 2015, "descolar" do PS uma parte do eleitorado. Ontem, Salvador Malheiro, diretor de campanha de Rio, lembrou que a última moção do líder, em 2020, "contou com a aprovação inequívoca" de Rangel.
Solução de Governo
Rangel não revela se dá a mão ao PS
"As próximas eleições decidir-se-ão ao centro ", lê-se na moção de Rio. O líder do PSD admite aproximar-se do PS, em nome do "superior interesse nacional": "Importa construir uma nova maioria sem linhas vermelhas, assente no diálogo e no compromisso, à Esquerda ou à Direita, cujo único limite será o da moderação", refere o documento. Rangel faz várias críticas aos socialistas, diz rejeitar o "bloco central" e defende que a solução que vincula o PS "ao radicalismo de Esquerda" está "completamente esgotada". Contudo, não esclarece como irá atuar caso não haja maioria à Direita ou caso o PS vença as eleições sem maioria.
Economia
Do "sufoco" fiscal à baixa do IRC
Em traços gerais, a receita de Rio e Rangel para alavancar a economia é semelhante: primeiro potenciar o crescimento e, depois, reforçar o "bolo" destinado aos trabalhadores. A moção do líder recandidato quer fazer o país "retomar um crescimento mais rápido e competitivo que permita criar mais riqueza, melhores salários e mais oportunidades". Rangel - que já disse concordar com um aumento "significativo" do salário mínimo - colocou ontem a tónica na criação de riqueza, argumentando que "não se pode distribuir aquilo que não se tem". A moção de Rio critica o "sufoco" da carga fiscal; a de Rangel fala em "opressão" tributária e propõe a descida do IRC.
Corrupção
Rangel cria equipa antifraude
Rangel propõe criar uma "agência anticorrupção altamente especializada e com poderes de investigação, prossecução criminal e sensibilização". Embora não pormenorize medidas, Rio elege o combate a estas práticas como "uma das bandeiras" do PSD.
Justiça
"Morosidade" preocupa ambos
Este é outro dos temas que preocupa Rio e Rangel e, também aqui, os diagnósticos coincidem: ambos escolhem mesmo a palavra "morosidade" na hora de identificar o maior problema do setor. Rio considera também que há "falta de confiança" na Justiça, apontando como maiores falhas, para além da demora dos processos, o "corporativismo", a "falta de escrutínio" e os "entraves" ao acesso universal. Para o recandidato, só não se avançou mais na reforma da Justiça por "falta de vontade" do PS. Já Rangel referiu que "a grande reforma" a fazer é conseguir "celeridade" nos processos "aproveitando a transição digital".
Saúde
Não diferenciar público e privado
Rio sublinha os "problemas estruturais de subfinanciamento" do SNS. E argumenta: "Não há alternativa a considerarmos os serviços de saúde, públicos e privados, como um todo, mobilizando todos os recursos disponíveis para a concretização do objetivo principal: assegurar um bom serviço de saúde". Rangel também traça um quadro apreensivo sobre a saúde e pede que se pense "para lá de disputas estéreis sobre dualidades "público/privado"".
Educação
Creches gratuitas e exames de volta
Tanto Rio como Rangel defendem a gratuitidade das creches, uma medida proposta pelo PCP e que o Governo incluiu no Orçamento do Estado que acabaria chumbado. Rangel também quer repor os exames nas mudanças de ciclo.
5G
Implementar rede "universal"
Rangel quer que a rede 5G tenha cobertura "universal" no país, de forma a potenciar o interior do país. Rio é omisso neste tema.