
Governo anuncia hoje plano de desconfinamento
Adelino Meireles / Global Imagens
Indicador que mede o grau de transmissibilidade do vírus acima dos 0,9. Atrasos no reporte da Madeira distorcem dados, mas R está a subir desde 11 de fevereiro. Peritos pedem cautela na leitura dos números.
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Com o país em suspenso, à espera do plano de desconfinamento que o primeiro-ministro irá hoje anunciar, a informação veiculada ontem por Rui Rio de que o R - indicador que nos diz quantas pessoas um positivo pode infetar - está acima dos 0.9 fez soar os alarmes. De facto, os cálculos do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e de, pelos menos, duas faculdades, sabe o JN, põem o R acima de 0.9. O ISPUP calcula-o mesmo nos 0.95, entre 3 e 9 de março.
São inúmeras as variáveis a analisar. A começar, desde logo, frisam peritos ouvidos pelo JN, pelo atraso nas notificações vindas da Madeira. Para se ter a noção, só no passado dia 8 aquela região autónoma respondia por 41% do total de casos nacionais notificados pela Direção-Geral de Saúde (DGS). Dia em que, lê-se no boletim diário, 92% dos casos da Madeira "teve um período entre o diagnóstico e notificação superior a 48 horas, decorrente de intercorrências informáticas de um laboratório na região". Sendo que o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) apura o R à data do início de sintomas.
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Um delay que empola, segundo os mesmos peritos, a realidade nacional e arrasta o R para uma subida. Para se ter uma noção, se calcularmos a média a sete dias de novos casos na Madeira com base nos boletins da DGS chegamos a uma média diária de 179 casos. Mas se fizermos o mesmo cálculo pelos boletins do Governo regional ficamos nos 48 casos/dia. Uma disparidade que explica, em grande parte, esta subida do R.
Mas não tudo, sublinham os especialistas ouvidos pelo JN e que pedem máxima cautela na leitura dos números. Porque, frisam, quanto mais baixos os números a trabalhar, maior a volatilidade dos mesmos. É que o INSA e faculdades que também trabalham estes dados, assessorando o Governo nas reuniões do Infarmed, usam modelos matemáticos diferentes para calcular o R. Nomeadamente, o período de transmissibilidade (quantos dias leva a infetar): uns, usam um algoritmo constante; outros, um algoritmo variável.
R a subir desde dia 11 de fevereiro
O R, de facto, está a subir desde o dia 11 de fevereiro. Segundo o JN apurou, os dados mais recentes, e com base no modelo de cálculo do INSA, colocam-no, entre os dias 1 e 5 de março, numa média a cinco dias, nos 0.78. Mas com tendência crescente: no dia 4 de março estava nos 0.79 e no dia seguinte estava já nos 0.84. A manter-se aquela taxa de crescimento, dentro de cerca de quatro dias poderia estar acima dos 0.9.
O próprio INSA, no seu último relatório, sublinhava um "estabilizar com tendência de aumento" daquele indicador, "o que sugere um desacelerar da tendência de decrescimento da incidência de SARS-CoV-2". Contactado pelo JN, aquele instituto remeteu explicações para o dia de amanhã, quando será publicado novo relatório sobre a curva epidémica e parâmetros de transmissibilidade.
Posição corroborada por um dos especialistas ouvidos, na medida em que funcionando o R como uma espécie de acelerador da transmissão, por medir o ritmo de variação diária da incidência, se esta mesma incidência for constante, estabilizando, o R aproxima-se e fica nos 1.0. Ou seja, se o R está acima de 1 é sinal de que os novos casos diários estão a aumentar; mas se ficar abaixo daquele patamar, então a incidência está a descer. Se rondar o 1.0, então sinaliza uma estabilização dos casos.
