Está desfeito o mistério: afinal, Augusto Santos Silva não vai avançar com uma candidatura à presidência da República, nas eleições do próximo ano. A decisão foi anunciada esta quarta-feira, durante o Jornal da Tarde da RTP.
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“Apesar dos muitos apoios de pessoas muito valiosas e importantes para mim que recebi, dos incentivos que recebi e que muito agradeço, do fundo do coração, cheguei à conclusão que a minha candidatura não seria suficientemente abrangente para ser suficientemente forte, e, em consequência, que a melhor candidatura possível é a candidatura de uma personalidade independentemente, oriunda da sociedade civil, que possa colocar em cima da mesa os temas que nós podemos discutir na campanha presidencial”, afirmou Augusto Santos Silva, admitindo que, caso avançasse, "seria divisível" e não teria "capacidade de agregação".
O antigo ministro socialista defende a necessidade de uma "candidatura forte, agregadora e independente" à presidência da República, algo que ainda não foi possível com os candidatos até agora conhecidos. Questionado sobre o apoio a António José Seguro, Santos Silva afirmou que "não está nada fora de hipótese".
Conhecido pelos intensos combates que travou contra o Chega na Assembleia da República, Santos Silva considerou que a eleição é um "momento muito importante" para combater o "vírus da intolerância" que já se enraizou na sociedade e em "alguns setores políticos". "Esta eleição presidencial é um momento muito importante para que os milhões de portuguesas e portugueses que estão preocupados com esse vírus da intolerância e da insegurança, do preconceito e até do ódio, que está a entrar pela nossa sociedade subrepticiamente, e que já tem expressão política em alguns setores políticos, é um momento muito importante para que esse movimento de sobressalto se faça. Porque é responsabilidade primeira do presidente. O presidente toma posse jurando sobre a Constituição, e jurando cumprir e fazer cumprir a Constituição", concluiu.
Período de reflexão e auscultação
Na semana passada, após ser conhecida a desistência do também socialista António Vitorino à corrida presidencial, o antigo presidente da Assembleia da República revelou que iria ponderar se avançava ou não, por considerar que nenhum dos candidatos apresentados até à data reunia "os requisitos mínimos" para ser presidente.
Numa nota publicada nas redes sociais, Augusto Santos Silva considerou que Luís Marques Mendes, Henrique Gouveia e Melo e António José Seguro - entretanto, António Filipe (PCP) juntou-se, no domingo, ao leque de candidatos - não "esgotam nem o espaço político, nem as propostas e perfis que devem estar representados nas eleições presidenciais".
Nos últimos meses, o socialista nunca excluiu avançar para Belém e referiu que queria contribuir para que o PS tivesse uma "candidatura única e forte". Na nota que publicou, afirmou que a candidatura de António Vitorino seria "bem-vinda".
Em maio do ano passado, após ter sido afastado do Parlamento por não ter sido eleito pelo círculo Fora da Europa, nas legislativas que deram a primeira vitória à Aliança Democrática, Augusto Santos Silva regressou à Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) para dar aulas e garantiu, em entrevista ao JN, que "as eleições presidenciais saíram do horizonte".
Na altura, apontou António Guterres e António Costa como "dois ótimos candidatos" do Partido Socialista. "Tem que ser um candidato forte, único e que não se divida. Duas pessoas que cumprem estas condições a 100% são António Guterres e António Costa. António Guterres ainda será secretário-geral das Nações Unidas, portanto parece-me evidente qual seria o melhor candidato possível, não só para a Esquerda democrática, como para milhões de portugueses", afirmou.
O professor catedrático e doutorado em Sociologia foi ministro da Educação (2000-2001), da Cultura (2001-2002), dos Assuntos Parlamentares (2005-2009), da Defesa Nacional (2009-2011), dos Negócios Estrangeiros (2015-2019) e de Estado e dos Negócios Estrangeiros (2019-2022). Entre 2022 e as eleições legislativas antecipadas de 2024, assumiu a presidência da Assembleia da República.