Os jovens que participaram no Dia da Defesa Nacional em 2021 revelaram um aumento da confiança nas Forças Armadas e nos Bombeiros, mas confiam menos na PSP. Das nove instituições cuja confiança foi avaliada, esta foi a única que baixou face a 2019. A predisposição para ingressar na carreira militar também tem estado a aumentar entre os rapazes.
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O relatório de estatísticas dos participantes na edição de 2021 do Dia da Defesa Nacional (DDN) deixou claro o nível de confiança que os jovens portugueses têm nas várias instituições, em particular nas Forças Armadas (FA). A seguir aos bombeiros, as FA portuguesas são quem mais confiança recebeu dos questionados. A tendência crescente de confiança desde 2019 -ano escolhido para comparação dos dados pelo facto de em 2020 o evento não se ter realizado devido à pandemia - foi transversal a todos os ramos e instituições, desde a Guarda Nacional Republicana aos tribunais, à Autoridade Nacional de Proteção Civil e ao sistema de ensino.
Apesar deste aumento generalizado, a Polícia de Segurança Pública (PSP) foi a única instituição contemplada no estudo cuja confiança desceu comparativamente a 2019.
Quanto à perceção que estes jovens têm das FA, a esmagadora maioria atribui nota positiva à instituição. Descreveram-na essencialmente como necessárias para a segurança do país, mas também o seu papel na promoção da disciplina, obediência, camaradagem e como sendo honestas e íntegras. O parâmetro que se destina à análise do conservadorismo e tradicionalismo nas FA foi o único que não obteve tanta concordância dos participantes, tanto na globalidade dos que responderam ao inquérito em 2021, como naqueles que o fizeram em 2019.
Maioria apoia obrigatoriedade
Em 2021, a larga maioria dos jovens que fizeram parte do inquérito defenderam a obrigatoriedade do Dia da Defesa Nacional 71,2% defendem a obrigatoriedade, contra 16,5% que se opuseram à realização do mesmo) e ordenaram, segundo as suas preferências, a atratividade dos diversos ramos militares. O Exército é o melhor visto pelos jovens (arrecadou 37,2% das preferências), face aos 35,4% da Força Aérea e aos 22,2% da Marinha. Apesar de ficar classificada em segundo no "ranking" das preferências, a Força Aérea foi o único ramo das FA cuja atratividade junto dos jovens aumentou face aos dados comparativos de 2019.
Mulheres menos predispostas a ingressar nas FA
A percentagem de jovens que colocam a hipótese de ingressar nas FA é menor que a daqueles que descartam essa hipótese. São 40% dos que estão predispostos a ingressar na carreira militar, contra 47,6% que descartam essa hipótese (12,4% não se pronunciou quanto à questão) mas os números da população feminina são os que mais sobressaem.
Ambos os sexos revelam uma subida significativa na sua predisposição para ingressar nas FA no espaço de uma década (5,8% de aumento nos homens e 7,1% nas mulheres). Contudo as raparigas mostram uma tendência decrescente no interesse pela carreira militar nos últimos quatro anos consecutivos. Quanto ao sexo masculino, o pico foi atingido em 2018, tal como no sexo feminino, seguido de um decréscimo em 2019 e 2020 e uma recuperação em 2021.
A escolaridade da população provou ser também um dos fatores determinantes que influencia a predisposição para a carreira nas FA: os jovens mais escolarizados são os menos interessados. O estudo reparte os níveis de escolaridade entre os participantes que têm o 9.º ano de escolaridade ou menos, o 10.º ano ou o 11.º ano, 12.º ano ou equivalente e finalmente aqueles que frequentam o ensino superior.
A percentagem dos inquiridos com o 9.º ano ou menos dispostos a ingressar nas FA chegou aos 54,3%, mas a diminuição deste valor é contínua até aos que frequentam o ensino superior, dos quais apenas 29,2 % consideram a carreira militar.
Santarém e Leiria com mais interessados
Analisando as regiões com maior expressão numérica de jovens participantes (acima dos 3000 inquiridos), os distritos de Santarém e Leiria são onde existe o maior número de jovens dispostos a ingressar nas FA, com valores de 42,2% e 41,1%, respetivamente, dos jovens considerados a mostrarem interesse. Mas atente-se, que em termos percentuais, Angra do Heroísmo (apesar da menor população) lidera o país em percentagem de jovens interessados com 45,6%. Faro é o distrito do país com menor potencial de recrutamento para as FA, com apenas 38% dos jovens a mostrar disponibilidade para a carreira militar.
O estudo, que teve por base 70 489 inquéritos, contabilizou uma participação de 48,7% de população feminina e 51,3% de população masculina registou a maior afluência de jovens convocados para o DDN no distrito de Aveiro. O aumento da afluência aos centros do DDN neste distrito é fruto dos constrangimentos impostos pela pandemia nos distritos de Lisboa e Porto, que impediu alguns centros nestes distritos de acolherem jovens no DDN. Particularmente, o Regimento de Transmissões (Porto), o Regimento de Transportes (Lisboa), o Regimento de artilharia Anti-aérea nº 1 (Queluz) e a Base Naval de Lisboa (Alfeite).
Raparigas estudam mais tempo
A situação socioeconómica dos jovens considerados também foi bastante diferente face ao inquérito em 2019. A edição do ano passado teve menos estudantes (foram 67,8% contra 71,4% em 2019) e menos trabalhadores-estudantes (7,8% face a 10,6% em 2019). Mas teve mais jovens que já estão no mercado de trabalho (16,3% face a 11,9% em 2019) e no desemprego (8,1% face a 6,1% em 2019). Os dados obtidos mostram ainda que as raparigas estão mais presentes no ensino superior (47,1% face aos 33,3% dos rapazes), ao passo que os rapazes dominam na percentagem dos jovens que apenas concluíram o 9.º ano de escolaridade ou menos (11,7 face a 4,9% das raparigas).
Quanto à distribuição regional destes índices, entre Portugal continental e as ilhas assinala-se uma discrepância considerável. Os Açores e Madeira são as regiões do país que registaram os piores indicadores de escolaridade do país. Angra do Heroísmo e Ponta Delgada têm a maior percentagem de jovens (apesar da população ser também mais pequena) com o 9.º ano ou menos, com 16,3% e 18,6% registados, respetivamente. Já a Madeira tem a maior percentagem dos que apenas têm o 10.º ou o 11.º ano de escolaridade (13,3% dos seus jovens). Inversamente, Castelo Branco, Coimbra e Viana do Castelo são os distritos com os melhores índices de escolaridade em Portugal e juntam a maior percentagem de jovens que frequentam o ensino superior, com o distrito de Castelo Branco a ocupar o lugar cimeiro, com 53,2% dos seus jovens a obter educação superior.