Com os canis sobrelotados, está a aumentar o número de animais abandonados nas ruas e os ataques a pessoas.
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No ano passado, as polícias registaram, pelo segundo ano consecutivo, um aumento de ataques de cães: mais de quatro queixas por dia, em média. De acordo com dados da PSP e GNR, dos 1187 ataques registados em 2017, o número subiu para 1359 em 2018 e aumentou novamente para os 1526, no ano passado.
Há duas semanas, um pitbull que fugiu de casa dos donos atacou e matou o cão de uma mulher que passeava o animal, na Rua 26, em Espinho. A proprietária ficou ferida numa mão, ao tentar intervir, tendo recebido tratamento hospitalar. E apresentou queixa na PSP. O animal atacante estava registado e tinha chip, tendo sido levado para o canil intermunicipal de Oliveira de Azeméis. Foi levantado um auto, podendo os proprietários ter de responder na justiça.
Para Ricardo Lobo, da Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios (Anvetem), este aumento de ataques está relacionado, por um lado, com a irresponsabilidade dos detentores e, em grande parte, com o aumento dos cães errantes e a incapacidade de recolha dos centros de recolha oficiais (CROA) onde, desde setembro de 2018, é proibido o abate.
Em 2018, havia 1578 cães declarados como perigosos pelas autoridades - ou seja, que atacaram pessoas ou animais e que passam a integrar uma lista. Em 2019, o número aumentou para 1665, ou seja, mais 87, de acordo com dados da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). Para o veterinário, "tal significa que os restantes [mais de 1400 cães, atendendo a que no ano passado houve 1526 ataques], não foram capturados pelas autoridades".
repensar o fim dos abates
Ricardo Lobo considera que a lei que proíbe a eutanásia em canis deve ser repensada, já que "deixar um cão numa box a vida inteira é cruel e os CROA não têm capacidade para acolher os animais que existem nas ruas". "Na Holanda, considerado um exemplo de boas práticas, os cães são abatidos quando estão no centro há mais de 12 meses, não havendo então a possibilidade de adoção".
As participações de ataques deram-se, na maioria, em áreas urbanas, da responsabilidade da PSP - 1040, onde até houve uma ligeira diminuição em 2019. Foi na área da GNR que houve um grande aumento: de 316 participações em 2018 para 486 em 2019.
"Na área urbana, há sempre quem alimente os cães errantes, mas na zona rural tal não acontece, o que leva a que os animais estejam mais propensos a atacar à procura de comida", considera Ricardo Lobo. O aumento de cães errantes deve-se essencialmente ao abandono. Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, defendeu que "é preciso estudar o problema do abandono e tomar medidas, para que os donos deixem de o fazer".
Em 2019, houve 768 denúncias por abandono. No ano anterior, tinham sido 718. "Deve ser criada uma comissão, constituída por entidades independentes, que defina medidas para diminuir o abandono, já que financiar a construção de CROA pelo país não é solução a longo prazo", avança Jorge Cid.
Há 142 CROA, dos quais 71 são municipais e outros tantos são intermunicipais, servindo no total 166 municípios. De acordo com a DGAV, existem 36 novos em construção e durante o ano de 2019 iniciaram obras de requalificação ou reconstrução noutros 26 para aumento da capacidade de recolha.