INSA deteta 159 ocorrências em maio e junho. Apesar de atípica, circulação era esperada devido ao confinamento.
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Sucessivos confinamentos e isolamentos impediram os vírus respiratórios sazonais de circularem no outono/inverno. Com a abertura da sociedade, e como esperado pela comunidade médica, os vírus encontraram a sua oportunidade para circular. Resultado: aumentam os casos de infeções respiratórias, sobretudo em crianças mais pequenas. Atípico para a época do ano, mas sem razões para alarme.
Segundo explica a responsável pelo Laboratório Nacional de Referência para o vírus da Gripe e Outros Vírus Respiratórios do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), "desde outubro de 2020 foram detetados pelas redes de laboratórios hospitalares 202 casos de vírus sincicial respiratório (RSV), sendo cerca de 70% destes casos em crianças com idade inferior a cinco anos". Com particular incidência, revela Raquel Guiomar, em maio e junho, com 159 casos detetados. Quando, em período homólogo, não havia qualquer registo. Atualmente, adianta, "observa-se um número de casos positivos para o RSV e outros vírus respiratórios acima do observado em anos anteriores".
Mais impacto nos bebés
O vírus sincicial respiratório, explica o pediatra Mário Coelho, "é a primeira causa em todo o Mundo de internamento de crianças no primeiro ano de vida". Com maior impacto nas "crianças entre os três a seis meses de idade", na medida em que, como o RSV tem "uma apetência especial pelas vias respiratórias", nos bebés aquelas "vias são mais estreitas" e mais facilmente entram em dificuldade.
Um vírus que "pode levar ao internamento de crianças mais pequenas, mas cuja morbilidade e mortalidade é muito baixa em crianças saudáveis e com sequelas praticamente insignificantes", sublinha.
Coordenador da unidade de pediatria geral do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, revela "um ligeiro acréscimo no internamento" de crianças até aos 24 meses com infeções respiratórias. Se, no passado, nesta altura do ano, tinham "0/1/2 crianças internadas em enfermaria, no último mês e meio" chegaram "a ter 3/4/5". Internadas por "necessidade de oxigénio", fazendo o "curso do tratamento habitual, tendo alta sem sequelas", diz.
"A evolução dos ciclos é atípica, mas não inesperada. Não assistimos nem de perto nem de longe aos picos do inverno". Tudo porque, diz Mário Coelho, os vírus "são seres de grande inteligência biológica e esperam a sua oportunidade para continuar a circular". O desconfinamento, tal como se verificou em países do hemisfério Sul, deu agora o mote.