Níveis de fecundidade recuperam de mínimos históricos dos anos da troika, mas estão longe de garantir reposição de gerações.
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Portugal vai continuar a envelhecer. A especialista em demografia Maria João Valente Rosa não deixa dúvidas: "Vamos continuar com baixos níveis de fecundidade, inferiores ao limiar necessário para garantir a substituição de gerações, que é de 2,1 filhos por mulher em idade fértil".
Em 2018 registou-se um ligeiro aumento da natalidade no país, mas a docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa é moderada na celebração, porque é "um bocadinho precipitado falar em tendências".
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Na melhor das hipóteses, os níveis de fecundidade (número médio de filhos por mulher) poderão "aumentar ligeiramente" nos próximos anos. Mas isso não significa o crescimento proporcional da natalidade (número de nascimentos). Isto porque "estão a chegar à idade fértil cada vez menos mulheres, em virtude de terem nascido em períodos de baixa fecundidade". Ora, sendo menos, mesmo que tenham uma média de filhos superior à das mães, não compensa. "Vamos continuar com níveis abaixo dos 2,1, mas um pouco acima dos mínimos históricos que atingimos em anos recentes", acentua a demógrafa.
Portugal não está sozinho neste campeonato. Os países europeus com elevada fecundidade não atingem o nível de reposição de gerações. "2,1 é a média mínima de filhos para que cada mãe deixe uma futura mãe. Se a probabilidade de uma mulher ter um rapaz e uma rapariga fosse idêntica, bastava que cada uma tivesse em média dois filhos. Porém, o que acontece é que nascem, em média, mais rapazes que raparigas. Por isso é necessário que cada mulher tenha um pouquinho mais que dois filhos para que se assegure a substituição", explica a investigadora.
A culpa de se estar bastante longe daquele valor é de "uma alteração profunda nas sociedades mais desenvolvidas". Maria João Valente Rosa explica que "antigamente a criança tinha um valor económico importante, pois eram mais dois braços para trabalhar. Hoje tem valor emocional e transforma-se num projeto que se espera que seja o mais bem-sucedido possível".
Por outro lado, o aumento do nível de escolaridade faz com que as mães "retardem a entrada na fase de maternidade". Daí que a especialista vinque que "é mesmo muito improvável que a médio prazo o país regresse a níveis de fecundidade elevados". "Somos já um dos países mais envelhecidos do Mundo e assim continuaremos em 2050", vaticina.